Como o carnaval nos ajuda a entender a mídia contemporânea?
Entre os diversos fenômenos urbanos ocorridos na última década, o carnaval de rua ganhou uma proporção notável. Cidades sem uma grande tradição como de Carnaval, como Belo Horizonte (MG), esse ano terá 590 blocos cadastrados pela prefeitura. O carnaval de São Paulo de 2019, em termos de números de blocos, também já ultrapassa a folia organizada no Rio de Janeiro. Diferente de outras épocas, o carnaval agora começa no final de semana que antecede a data prevista pelo feriado (só no pré-carnaval paulistano foram 89 blocos) e termina no final de semana seguinte.
Mas afinal o que isso tem a ver com mídia ou com a cultura participativa?
Em uma de suas muitas viagens para o Brasil, o pesquisador Henry Jenkins em entrevista ao Globo em 2012, observou:
“No carnaval, a relação entre quem faz a performance e quem assiste é fluida. Um espectador pode, de uma hora para outra, se tornar parte do espetáculo. Quem quer participar, pode. E todas as contribuições são valiosas. Nós devemos pegar o que acontece nas escolas de samba e levar para a educação formal.” Henry Jenkins
Para além do comentário de Jenkins sobre a educação observada nas escolas de samba, é possível afirmar que essa mudança também está relacionada com a existência de novas plataformas de midiáticas e a participação dos usuários. Assim como as manifestações que também cresceram nessa década – principalmente após junho de 2013 -, um dos maiores desafios para quem organizava um bloco no passado era a dificuldade de divulgar e, consequentemente, conseguir quorum: os carnavalescos contavam com panfletos, boca a boca e o talento da bateria para ser agradar o ouvido de novos foliões.
“Tirando os grandes destinos do Carnaval (Rio de Janeiro, Salvador e Recife, por exemplo), os habitantes de outras cidades tinham geralmente duas opções: frequentar eventos em espaços privados (portanto, pagos) ou assistir aos desfiles das escolas de samba nos grandes canais de TV. A midiatização passiva e as festas privadas do passado deram lugar a ocupação das ruas e a mobilização pelas redes sociais. Hoje um bloco como o Queen Magia consegue atender um público específico (fãs da banda Queen), reunir músicos de diversos projetos, fazer sua divulgação pelo Instagram, sustentar-se com crowdfunding e convocar milhares de foliões/seguidores às ruas”, observa o professor da EAM, Gustavo Padovani, que ministra a disciplina “Cultura Participativa na Multiplataforma”.
A disciplina citada tem o intuito de observar os fenômenos contemporâneos e do passado e suas relações midiáticas para que seja possível pensar as mais diversas estratégias de engajamento nas plataformas e a criação, distribuição e fluxo de conteúdo do projeto.
Para realizar esse percurso, a disciplina atravessa de forma interdisciplinar áreas do marketing, ativismo, mineração de dados, design, audiovisual e comunicação com o intuito de criar e pensar os dispositivos de participação dos usuários e os diálogos com eles para impulsionar qualquer tipo de projeto multiplataforma.
As inscrições para a turma 2019 estão abertas até 08 de março! Inscreva-se:
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