A grande mudança nas atividades empreendedoras transforma também o cenário da produção de conteúdo audiovisual
O universo das startup cresceu exponencialmente nos últimos anos. Os motivos são vários: crescimento do número de empreendedores, facilidade na circulação de informações em rede, múltiplas alternativas para buscar investimentos e acesso na criação de produtos e serviços tecnológicos de baixo custo.
Segundo Eric Ries, o autor de “A Startup Enxuta”, uma startup pode ser definida como tipo específico de empresa em que os caminhos já conhecidos não funcionam para ela, pois a “startup é uma instituição destinada a criar novos produtos e serviços em situações de extrema incerteza.” Para o professor da Especialização em Produção de Conteúdo Multiplataforma, José Carlos Aronchi, o ponto chave para o empreendedor é casar o investimento, que pode ser do próprio bolso ou de parceiros públicos e privados, com uma boa orientação de gestão. “O que importa é pensar no processo da startup, com foco na inovação e suporte tecnológico, que envolve parcerias e vivências”, afirma.
Para um projeto de startup audiovisual ser colocado em prática, é preciso estudar como as empresas das mais diversas áreas desenvolvem ideias criativas e inovadores, como desenvolvem o protótipo, validam e, o mais importante, como articulam seus produtos para serem viáveis. “Desenvolver o modelo de negócio e não ter medo nem preconceito de ganhar dinheiro com o produto audiovisual. Só assim surgem as startups de qualquer segmento, e no audiovisual este trajeto é desconhecido, porém promissor para quem acordar cedo”, aponta o professor Aronchi.
A disciplina do curso da Especialização em Produção de Conteúdo Audiovisual para Multiplataformas chamada “Startup Audiovisual: Empreendendorismo e Inovação”segundo o coordenador, João Carlos Massarolo, “foi criada para atender as demandas dos profissionais que atuam no mercado e que estão interessados em estabelecer parcerias e co-produçoes com empresas de tecnologia, preferencialmente, buscando desenvolver produtos inovadores, que atendam as necessidades da produção audiovisual contemporânea.” Para ele, a disciplina permite “que o profissional visualize oportunidades de negócios audiovisuais e adquira experiência no mercado em emergência, que se configura pela convergência entre a indústria audiovisual, os conglomerados de mídia e as empresas de tecnologia”.
A disciplina integra o curso que é realizado presencialmente na Universidade Federal de São Carlos, aos sábados e quinzenalmente. As inscrições começam em 1 de fevereiro. Outras informações no site www.geminisufscar.com.br/especializacao.
Entrevista com José Carlos Aronchi
O consultor de Inovação e Tecnologia do SEBRAE-SP, diretor da Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET) e também professor do curso de Produção de Conteúdo Audiovisual Multiplataforma, José Carlos Aronchi, realizou uma entrevista a respeito do tema. Confira:
Como é o cenário de empreendedorismo dentro do audiovisual?
A produção audiovisual está passando por uma fase de ampliação do mercado. Isso está estimulando as iniciativas empreendedoras para cobrir com conteúdo as multiplataformas de entretenimento, informação e educação. A terceirização, que já existia na fase analógica, se tornou com o digital uma prática para as empresas que contratam empreendedores para dar soluções pontuais de captação e tratamento de imagens, design, roteiro e finalização com seus próprios recursos técnicos, em regime de home-office. Porém, o empreendedor do audiovisual ainda não enxerga a cadeia de negócios para ampliar seu mercado não apenas na sua função de preferência, mas em outras atividades em parceria com outros empreendedores a fim de agregar valor ao seu projeto. Empreendedorismo não é só uma opção, é a única saída para o mercado cada vez mais escasso nas funções tradicionais e carente de soluções inovadoras.
Como buscar a inovação dentro desse campo do audiovisual?
Inovação se faz com parcerias. Para entender o conceito de inovação é preciso vivenciar em espaços diferentes. E aí se encontra a maior dificuldade dos profissionais do audiovisual que giram em torno do seu ecossistema e não tem uma visão ampla da inovação em outros segmentos. Um exemplo é a telemedicina, uma área carente de profissionais, em franca expansão, com uma apelo comercial enorme e não se vê um projeto do audiovisual para esta área porque os criativos são direcionados para os gêneros tradicionais de ficção e entretenimento. Educação a distância é, essencialmente, audiovisual, e os cursos EAD são pobres de inovação porque os profissionais reproduzem as fórmulas da mídia tradicional. Para buscar a inovação, é preciso circular pelas engenharias, saúde, educação e pelas incubadoras, aceleradoras, hackatons e ver o que os inovadores estão apresentando como soluções para o mercado.
Quais são os passos recomendáveis para entrar nesse campo de startup audiovisual?
Entender que startup não é só de tecnologia e pode ser de qualquer segmento, mas deve ter a tecnologia como insumo para sua ideia ou negócio. Os primeiros passos são fora da sua área, transitando por outros setores e segmentos. Ver como as startups desenvolvem ideias inovadoras, prototipam, validam e pivotam seus projetos para chegar ao MVP, o produto mínimo viável. Desenvolver o modelo de negócio e não ter medo nem preconceito de ganhar dinheiro com o produto audiovisual. Só assim surgem as startups de qualquer segmento e no audiovisual esse trajeto ainda é desconhecido, porém promissor para quem acordar cedo.
Qual startup audiovisual no Brasil que você considera notável?
A NETSHOW.ME é o melhor case de startup do audiovisual que venho acompanhando há alguns anos. Passou pela consultoria da Escola de Negócios do Sebrae-SP, Ganhou o prêmio da Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão – SET, o prêmio do Sebrae Nacional e da Campus Party como melhor startup em operação. Iniciou como uma plataforma de transmissão ao vivo por streaming, de artistas amadores. Cobrava ingresso para os shows e repassava aos artistas, que eram parceiros na divulgação da plataforma. Mudou o modelo de negócios quando recebeu mentoria e investimento para uma plataforma de reuniões corporativas e eventos. Atualmente, está sendo acelerada pela WAIRA, da Telefônica, e já foi apontada como uma das startups mais promissoras do Brasil, tendo sido convidada a participar de rodada de negócios no Vale do Silício, nos EUA. Está na trajetória do sucesso porque os empreendedores souberam aplicar todos os conceitos para o crescimento da startup.