Pela lógica, eu deveria ter odiado esta nova versão cinematográfica de Carmen, a ópera de Bizet vindo de Mérimée, dirigida por Benjamin Millepied, que é bailarino, casado com a Natalie Portman e aqui estreia na direção de filmes.
Pra começar eu fui esperando algo que me remetesse ao filme homônimo de Carlos Saura, o que pra nossa sorte, não é.
Esta tragédia se passa na fronteira entre México e EUA por onde a mexicana Carmen atravessa por baixo do muro e é salva por Aidan, um “policial” de fronteira, ainda com traumas da Guerra do Afeganistão e que mata um colega para que ele não mate Carmen.
E assim se forma o casal mais improvável e mais tragicamente lindo do ano.
O filme tem os 2 pés num clima onírico, quase psicodélico, onde a dança transforma as cenas em pinturas em movimento, dando um ritmo próprio à narrativa, tirando nossos pés do chão, através dos pés das bailarinas maravilhosas.
Lembra que semana passada eu escrevi sobre Pânico 6 e falei que ia chegar a hora da mexicana Melissa Barrera explodir nas telas?
Demorou uma semana e ela explode como rouba o filme.
A gente nem percebe que o queridinho Paul Mescal é seu par romântico, num papel forte e singelo, a cara do inglês.
Uma outra figura linda e forte no filme é a eterna musa do Almodóvar Rossy de Palma que meio que faz uma fada madrinha, uma mãezona poderosa.
Teve momentos que Carmen me lembrou do Romeu e Julieta do Baz Luhrmann, pela tragédia na fronteira, pelas fugas e reencontros.
MAs o barroco de Luhrmann que se sobrepõe a Shakespeare na verdade fica bem longe da crueza musical que respeita a obra de Bizet como se deve.
Me disseram que este Carmen é um musical, o que pra mim não é.
É um filme com muita música, muita dança, onde ninguém para de falar e começa a cantar, muito pelo contrário.
O pouco que se diz é mais que suficiente para ser dito, ouvido e entendido, num filme onde a trilha original de Nicholas Britell (de Moonlight, Succession) e suas referências a Bizet nos leva a lugares onde não esperaríamos ver a Carmen faltal em sua busca pelo amor onde só encontra tragédia.
NOTA: 1/2