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High & Low: John Galliano é o documentário perfeito, mesmo que não o seja, para a era do cancelamento: é um filme de redenção.
Mas calma lá, senhor datilógrafo, no caso eu mesmo: como haver redenção de um ser tão abjeto, mesmo sendo um gênio da moda, a partir de uns “me desculpe” aqui e ali depois de ter dito e repetido em vídeo ofensas racistas anti semitas contra mulheres que nem judias eram.
E pior: Galliano, Deus Galliano, o último revolucionário vivo da moda, ainda soltou uma afirmação sobre Hitler que nem vontade de escrever aqui eu tenho.
Mas como dizem por aí, sorte do homem branco milionário cheio de contatos nos altos escalões que consegue ajuda pra tal redenção.
E não paremos por aqui.
Sorte desse homem que também consegue que o conglomerado Condé Nast, um dos maiores nomes do mundo da moda, banque esse documentário através da chefona Anna Wintour, a mulher que assinou embaixo da carreira de Galliano quando todo mundo o achava muito malucão.
Conseguiram um grande diretor, Kevin MacDonald que nos entrega um filme dilacerante, franco, quase cruel e tão incrível que nem parece uma ação de marketing para salvar a reputação de Galliano, um nome que não pode continuar perdido e esquecido mesmo depois de tanto ódio de sua parte e pior, quando ele estava começando sua peregrinação para a expiação de culpa, ele aparece pela rua vestido com roupas propositalmente parecidas com trajes hassidicos, e o mundo ruiu de novo achando aquilo uma piada.
A grande questão do filme não é se Galliano é um gênio, um revolucionário, um criador como poucos outros, um dos maiores nomes da moda, amigo fiel a mais um monte.
O filme é sobre o garoto nascido em Gibraltar na Espanha, filho de família pobre super conservadora que cresceu e apareceu em Londres, pra onde se mudou aos 6 anos de idade e que se mostra durante todo o filme sendo visto como um homem muito culto, muito inteligente e genial, como muita gente o chama mesmo, alguém que ao lado de seu amigo Alexander McQueen era considerado o punk da moda e que mesmo assim foi triturado pela máquina, como ele mesmo diz fazendo 32 coleções por ano e a gente viu como McQueen terminou, infelizmente.
Se ele é tudo isso, como ao final do filme a “roda de suporte” dele tenta nos convencer que ele não conhecia muito sobre o holocausto, como ele não sabia direito quem foi Hitler e por isso suas palavras teriam sido levianas mas sem a força que parecem ter, ditas em seu café preferido em Paris, por mais de uma vez e sempre gravadas por câmeras.
MacDonald é um grande diretor, faz o trabalho direitinho, entrevista uma Wintour sem óculos, de cara limpa pra passar o pano necessário em Galliano para que hoje ele esteja de novo no topo do papo da moda de novo na casa Margiela, depois de ter realizado talvez o desfile mais celebrado da última temporada.
Como sempre, money talks e o cara tá aí de novo. Até que não mais.
NOTA: