O Processo Goldman é mais um filme de tribunal francês.
Ou melhor, depois das obras primas Saint Omer e Anatomia de Uma Queda, o ótimo diretor Cédric Kahn lança mais um #alertafilmão, O Processo Goldman, agora sobre o real segundo julgamento do revolucionário esquerdista francês Pierre Goldman, em 1975.
A diferença deste para os outros dois filmes citados é que O Processo Goldman se passa inteiro em um só cenário: a sala do julgamento em si, onde os personagens principais são o próprio Goldman (vivido por um inacreditável Arieh Worthalter, vencedor do César de melhor ator por este papel), seu advogado de defesa e o juiz que conversa e investiga todas as testemunhas, as de acusação e as de defesa.
Pra começar, o que vemos no filme, a forma como o julgamento é conduzido não é nada parecido com o que vemos em filmes e séries de tribunal.
Algo parecido com o que vemos aqui vimos em Anatomia de Uma Queda, mas parece que lá nos anos 1970 a liberdade de fala que todo mundo tinha em julgamentos era algo nada parecido com o que vemos hoje em dia.
E o melhor, a plateia, as pessoas que assistem o julgamento, podiam se manifestar quando quisessem.
Aliás, todo mundo fala quando quer, com educação, um interpelando o outro apesar de ter uma lógica e uma ordem a ser seguida.
E isso dá uma força incrível ao roteiro, que é de um primor inesperado, escrito pelo próprio diretor Kahn junto com Nathalie Hertzberg.
Falandoo em roteiro, no filme temos um candidato ao Oscar de roteiro este ano, o também ótimo Arthur Harari, marido da Justine Trier e co roteirista de Anatomia de Uma Queda que faz o papel do advogado de defesa de Goldman.
A história de Pierre Goldman é incrível, e eu não conhecia. Ao que parece ele foi um “divo” da esquerda francesa nas décadas de 1960/70, tendo lutado em Cuba, Venezuela e outros lugares pelo mundo. Diziam que em revoluções que não eram dele, mas ele dizia que se tivesse luta do povo, por lá estaria.
No filme vemos seu pai contando como um judeu pobre que fugiu da guerra e virou um grande herói da resistência francesa em Lyon criou o filho que viria ser um outro tipo de herói para um outro tipo de público mas que no final acabou seguindo os passos do pai, mesmo que de uma forma enviezada.
Goldman neste julgamento estava sendo acusado da morte de 2 pessoas quando assaltou uma farmácia e mesmo já estando preso e cumprindo pena pelo crime, seus advogados conseguiram que ele fosse julgado de novo porque queriam provar que ele não tinha matado as 2 mulheres, como ele sempre disse.
E a ida e volta do julgamento com toda a defesa e a acusação de Goldman deram um belo roteiro e um filme melhor ainda.
NOTA: 1/2