Em cartaz no Festival Italiano de Cinema, A Sombra de Caravaggio é Cinemão com C maiúsculo e “ão” no final.
Não é um #alertafilmão mas é filme grande, de e para gente grande, onde a história do maior artista da história, na minha modesta opinião, é contada da forma mais “tradicional” possível e mesmo assim ser subversiva.
Explico.
Michelangelo, que nasceu em Caravaggio e por isso era assim chamado, já que seu prenome era dos mais comuns na Itália à época, foi um cara com um talento inigualável, uma genialidade única, que revolucionou a história da arte com sua obra e que não estava nem aí para o status quo.
Não por menos ele “inventou” o chiaroscuro, uma nova forma de se pintar onde as sombras, pouco usadas até então, eram importantes para mostrar as luzes “e as verdades” em suas pinturas.
Caravaggio foi o artista marginal por excelência, o cara que usava as prostitutas, os bêbados e drogados, os vagabundos e mendigos como seus modelos para retratar a Bíblia, já que seus maiores trabalhos eram encomendas feitos pelo mais alto escalão da igreja católica e sua obra era exposta nas igrejas de Roma em altares privilegiados.
Um adendo: um dos melhores passeios a se fazer em Roma é a rota de Caravaggio, onde você vai seguindo em um mapinha todas as igrejas com obras do pintor em seus altares, das coisas mais incríveis a se fazer na vida.
O filme A Sombra de Caravaggio, do diretor Michel Placido (que também atua como o Cardeal Del Monte) é um daqueles quase épicos, onde tudo é grande para honrar um personagem gigante: cenários, elenco, figurinos, a própria história, tudo é elevado a uma potência estratosférica, muita calcada no super talento do grande Riccardo Scamarcio como Caravaggio, um ator tão versátil que assistir um filme italiano sem ele, faz falta.
Seu Caravaggio é fanfarrão, desbocado, sexual e deprimido. Exatamente como deve ter sido o real.
Ter o Caravaggio do Derek Jarman como referência de vida e de repente assistir um “filmão” como este A Sombra de Caravaggio dá até um choque de realidade pela forma de ambos os filmes, que não poderiam ser mais díspares.
Mas o conteúdo é o mesmo, assistir a vida de Caravaggio passando a nossa frente é das melhores sensações possíveis.
Ver um artista indo contra tudo e contra todos, colocando uma Maria Madalena pintada a partir de uma “mulher da vida”, um São Paulo cujo modelo foi um ladrão bêbado e ver as caras de espanto dos cardeais do Vaticano ao saberem disso, não tem preço.
E o melhor: entender o quanto esses mesmos cardeais tiveram que se curvar ao gênio pintor e aceitar sua forma, mas principalmente seu conteúdo, é de chorar de felicidade.
NOTA: