E eu tenho que falar hoje do evento cinematográfico da semana, o lançamento na Netflix do novo filme do queridinho e admiradinho de Hollywood, David Fincher.
O Assassino “veio vindo” antes de seu lançamento cheio de promessas e láureas, o trailer prometia muito com uma fotografia primorosa (e por fotografia não é só a luz mas principalmente no caso de Fincher, a câmera e seus movimentos) e prometia muito com uma lista de coadjuvantes que vai de Tilda Swinton a brasileira Sophie Charlotte, quem diria.
Fincher é um cara que foi muito importante nos meus tempos de diretor de publicidade, seus filmes foram sempre usados como referências para os comerciais que eu dirigia.
Quando ele se enveredou pela direção com sua pegada na franquia de Alien, eu fiquei de queixo caído para depois babar mais ainda com Se7en, Clube da Luta e mais recente com Mank. Mas ele não foi sempre genial pra mim, fez alguns filmes e séries que não me pegaram de jeito.
Mas eu fico animado com cada lançamento de Fincher e não poderia ter ficado menos empolgado com esse filme estrelado pelo grande Michael Fassbender.
Ele é o assassino do título, um cara totalmente nóia (no bom sentido?), que parece saído de um spin off de Clube da Luta, que vive sua vida sob regras rígidas já que é um assassino de aluguel, daqueles high end, que são contratados por milionários, daqueles com serviço totalmente limpo, detalhado, meticuloso, quase burocrático para que não haja falha alguma.
Como a direção de David Fincheer, o cara mais esquemático de Hollywood, que deve refazer as cenas em níveis kubrickianos até ter o take perfeito onde tudo se encaixa perfeitamente.
O problema é quando alguma coisa dá errada. Para o assassino de aluguel ou para o próprio Fincher.
O assassino do Fassbender erra quando tenta matar um figurão.
Por isso o escritório que o contrata oferece reparação a quem pagou pelo trabalho e vai atrás do assassino com sangue nos olhos.
Já o Fincher, não me pegou desta vez.
Seu filme é lindo, talvez o filme com a fotografia mais perfeita do ano graças ao maravilhoso Erik Messerchmidt, um dos colaboradores mais próximos de Fincher recentemente.
Mas o roteiro, ah o roteiro. Apesar de ter sido escrito pelo também ótimo Andrew Kevin Walker, de Se7en, não rola. Baseado em um livro com um fiapinho de história, ele tentou arrastar e transformou em um filme de 2 horas com um textinho tão sem vergonha em uns diálogos que eu por vezes duvidei que tivesse sido escrito por um dos meus ídolos, esse roteirista animal.
Tem um diálogo do Fassbender com a Tilda que eu meio que cubri meus olhos de vergonha. Aliás a Tilda é das coadjuvantes a que mais fala no filme. O roteiro é centrado radicalmente no personagem do assassino e o resto é resto.
O início do filme é uma homenagem (será?) linda ao Janela Indiscreta, visto pela lente de uma mira prestes a cometer um assassinato. É uma das coisas legais do filme, cenas e sequências que nos remetem a homenagenzinhas ou lembrancinhas ou pulgas que Fincher vai nos colocando atrás de nossas orelhas.
E essas pulgas vindas dessas cenas ótimas ficam melhores ainda com a trilha inacreditável do Trent Reznor, e do Atticus Ross, outros super colaboradores de Fincher que inclusive já venceram o Oscar por um de seus filmes.
O filme tem uma cena de luta que demora uns 38 minutos (quase) tem uma das melhores edições de som da história do cinema (olha que animado eu), com uma trilha que parece que realmente faz parte do que está acontecendo na tela. Que perfeição, que edição de imagem e de som.
E falando em som e em trilha, não poderia deixar de falar que o assassino sem concentra ouvindo música e detalhe: ouvindo The Smiths. Fora uma cena incrível quando o assassino entra em casa e tá tocando Portishead numa das sequências de mais tensão do filme, onde a trilha tinha outro significado e acaba dando um nó na nossa cabeça.
Apesar de todos os pesares, pro bem e pro mal, O Assassino é um filme lindo lindo que deve ser visto e curtido, mas ordinário
NOTA: 1/2