Chega aos cinemas o petardo musical gay português Fogo-Fátuo, um dos filmes mais badalados em Cannes 2022 e um dos mais esperados por mim.
O filme foi escrito e dirigido por meu preferido João Pedro Rodrigues do meu também preferido O Ornitólogo.
A história se passa quando no leito de morte, o rei português sem coroa, Sua Alteza Real Alfredo, relembra seu passado quando realizou seu sonho de ser bombeiro.
E como um donzelo, foi salvo pelas mangueiras, piadas, corpos fortes e danças surreais em um quartel de bombeiros nos dias de hoje, quando Alfredo ainda era príncipe.
As músicas estranhas, as coreografias mais estranhas ainda fazem deste musical uma comédia surreal que Lynch deve ter ficado com inveja.
Fogo-Fátuo é um musical mas não tem nada de clássico, que é o que poderíamos esperar de um filme desses. As referências estão todas lá, mas o delírio do diretor João Pedro nos levam a locais fílmicos nunca dantes navegados.
Uma coisa que me deixou bem feliz é que como em todos os seus outros filmes, principalmente Fantasma, de 2000, onde chocou Portugal com uma cena de sexo oral explícito, João joga tudo em nossa cara.
Quando a gente acha que tal cena pode ser uma metáfora a gente logo descobre que não, é aquilo mesmo que ele está nos mostrando.
Nos filmes do autor português, o quadro dos meninos negros na sala de jantar da família real querem dizer o que a gente está vendo mesmo, como ele deixa claro algumas cenas mais tarde.
Ou os bombeiros semi nus recriando obras de arte no vestiário, tal quel um Derek Jarman (mais) alucinado.
Fogo-fátuo é aquele fogo que aparece sobre pântanos, a partir de combinações químicas específicas, que os nossos povos originários chamavam de Boitatá.
O Fogo-Fátuo deste filme é o príncipe sem coroa, aquele que a gente vê de longe mas na verdade não é, como também não é a vida que sua família esperava dele em todos os sentidos.
Tudo isso entregue pelo grande João Pedro Rodrigues, sem rodeios, na nossa cara.
NOTA: 1/2