Eu amo quando uma distribuidora de filmes quer ser “malucona” e coloca palavras como “barato” numa comédia sobre…drogas.
Se a gente tinha dúvidas (alguém ainda tinha?) que a Isabelle Huppert é a maior atriz viva, esse filme acaba de vez com isso.
Aqui, Huppert é uma mulher que trabalha na polícia traduzindo os “árabes” que são presos, geralmente traficantes, e também traduzindo conversas em telefonemas interceptados.
Em sua vida pessoal ela está com um problema enorme: deve muito dinheiro pra muita gente, já que paga dívidas de seu ex marido há 20 anos, assim como dívidas de seu pai já morto e ainda sustenta a mãe e 2 filhas adolescentes.
Em um desses telefonemas interceptados, ela percebe que pode não traduzir o que houve mas sim, usar em seu favor as informações trocadas pelos traficantes.
Assim a pequena e aparentemente frágil Patience vira a nova grande traficante de haxixe de Paris, sendo que ninguém na polícia faz a menor ideia de quem seja essa mulher árabe que fala tão bem o francês.
A Dona do Barato, ou a mãezona no original, é uma comédia policial tipicamente francesa, cheia de diálogos espertos, ainda mais que sua personagem principal é uma intérprete, que só não fala mais do que deve porque logo descobre que seu silêncio é valioso.
O roteiro é super redondinho, muito bem escrito e só tem uma falha besta, na minha opinião, que acaba deixando o final ainda mais interessante do que já seria sem esse detalhe.
Agora, eu devo confessar uma coisa: eu sempre que vejo filme novo da Huppert penso se devo ou não assistir.
Como ela faz muito coisa, é a queridinha do mundo todo, fica com medo que ela caia num mesmo limbo (pra mim, pessoalmente) que caíram Julianne Moore e Fernanda Montenegro: não vejo mais filme com elas, não consigo, bode profundo.
Elas entraram no modo “Tom Hanks”, onde fazem sempre as mesmas caras e bocas e trejeitos, vivendo sempre um mesmo alter ego e não mais personagens como faziam até uns bons anos atrás.
Fernandona principalmente, que agora fala tudo com um respiros e silêncios longos entre palavras que não os pedem, o que me irrita profundamente.
Mas pra mim e pra nossa sorte, Isabelle Huppert é maior que isso.
Por mais diversos e estranhos e ótimos e ruins sejam seus filmes, ela sempre nos entrega personagens cheios de camadas, de detalhes de personalidade que conseguimos enumerá-los sem pestanejar.
Patience, a traficante espertona parisiense é mais um pra sua galeria.
NOTA: