Quem diria que ser o ator fetiche de Cronenberg, um dos diretores mais doentes da história do cinema, detonaria bem a cabecinha linda de Viggo Mortensen?
Explico.
Falling é o filme de estreia na direção de nosso preferido Viggo.
E também é a estreia no roteiro, o que faz o filme bem perturbador.
Por mais que tente passar uma outra ideia, Falling conta a história de um dos piores personagens do cinema dos últimos tempos, um homem escroto, canalha, homofóbico, xenófobo (já disse preconceituoso?), grosso, machista, abusador que ao final de sua vida, sofrendo de câncer mas que sobreviveu a 2 esposas que, não por menos, morreram antes dele, agora tem que sair de sua fazenda no meio do nada e morar com seu filho adulto, gay, casado em Los Angeles, um lugar que odeia e diz que “pode pegar Aids só por entrar no mar”.
O filme mostra a vida de Willis desde o início de seu primeiro casamento, ou melhor, desde o casamento em si onde ele limpa a boca depois de dar o beijo na esposa na hora da foto.
Willis é aquele machão caipira que não pensa em ninguém além dele mesmo.
Trata com quase desprezo a esposa, trata mal o filho, menos no dia que ele consegue atirar e matar um pato, isso quando ele tem perto de 7 anos de idade.
Falling se passa no fim da vida de Willis e os flashbacks são mais desconcertantes do que os dias atuais onde o homem, com sintomas fortes de demência, grita, briga, desrespeita, fala o que quer, não aceita ouvir o que querem e só faz sua família, seu filho, sua filha, seus netos e netas e genro sofrerem aos pouquinhos com isso tudo.
Apesar do foco todo, o grande personagem do filme pra mim é John, o filho gay vivido pelo próprio Virggo, diferente de tudo o que já vimos ele fazer no cinema, como um homem de seus 50 e tantos anos de idade, frágil em frente ao pai, que a gente sente que treme aos seus ataques insuportáveis, mesmo sem vê-lo tremer de fato.
Falling é um filme difícil de se assistir, eu mesmo quase desisti, mas fui firme e forte para entender como acabaria. E não recomendo se o seu dia não estiver dos melhores.
Willis é o típico neo nazi, bolsominion, velho escroto de direita que nunca respeitou e não respeita nada nem ninguém que seja minimamente diferente dele, chamando sua ex mulher de puta, seu filho de bichinha e daí pra baixo.
Quando disse que o Cronenberg fudeu com a cabeça do Viggo foi meio como um elogio, mas eu sinceramente não esperaria que esse seria o primeiro filme que ele faria como roteirista e diretor.
Cronenberg, aliás, que está em Falling como um médico que faz um exame de próstata no escroto Willis e tem que ouvir um monte de impropérios durante a consulta.
Falling venceu o Festival de San Sebastian como melhor filme, o que eu acho estranho até, porque não só difícil, Falling é um filme bem mediano no geral, sem arroubos de genialidade de forma alguma, nem de cinema imperdível.
Apesar de todos os pesares, Falling tem o poster mais lindo do ano.
NOTA: 1/2