Senhoras e senhoras, habemos o melhor filme da Mostra de São Paulo.
O filme iraniano Não Há Mal Algum, vencedor do Urso de Ouro, o prêmio máximo do Festival de Berlim em sua edição de 2020, me deixou de queixo caído, pernas bambas e impressionado com sua contemporaneidade.
Ou melhor, o filme parece que foi feito daqui uns 10 anos, lá por 2030.
E explico rapidinho o porquê.
Não Há Mal Algum trata de um tema que, apesar de conhecido mundo afora, a pena de morte no Irã, não é nada discutido no cinema.
Sempre que eu lia matérias e reportagens sobre esse tema, pensava que faltava um filme sobre isso. E imaginava que no máximo teríamos um documentário super político, de algum diretor que não mais vivesse no Irã.
Mas Mohammad Rasoulof fez o impensável.
Não Há Mal Algum é um filme contado por 4 histórias que giram em torno da pena de morte.
E nenhuma das 4 histórias passa a mão na cabeça de nada.
Não Há Mal Algum é um filme sem vergonha de seu tema, um filme muito bem escrito, muito bem dirigido, com aquele elenco que já se mostra perfeito em toda produção vinda do Irã nos últimos bons anos.
Não Há Mal Algum, de novo, é um filme para pegar no estômago, mais do que no coração.
Mas diferentemente de um filme que se fosse feito no ocidente, essa pegada no estômago nos é mostrada de uma forma tão casual e banal que acaba funcionando mais do que eu esperava até.
O choque de realidade é maior ainda.
Não Há Mal Algum é um drama levinho esteticamente falando.
E se bobear, Não Há Mal Algum conta 4 histórias de amor que giram em torno da pena de morte.
O que é mais chocante ainda. E mais genial ainda.
O sofrimento visto no filme não é o que esperávamos ver; assim como também não é o amor visto nas histórias; ou as formas como elas se desenvolvem.
Mohammad Rasoulof é um diretor como poucos hoje em dia. É um diretor que sabe o que faz, como faz, principalmente por ser um roteirista de mão cheia.
Ah, e pra quem se assusta ou acha ridículo quando toca Bella Ciao no filme, lembre-se que essa é uma canção de resistência italiana. Pense na música como esse hino contra o sistema que você vai perceber como ela é muito bem usada no filme, causando mais uma estranheza necessária.
Viva Não Há Mal Algum.
NOTA: