Quem me conhece um pouquinho que seja sabe que David Bowie é meu Amo, Mestre e Senhor.
É Bowie no céu e Bowie na Terra.
Amo, respeito, venero por todos os dias e dias amém.
Obviamente eu fui do coro que quando soube que Stardust, o filme apócrifo, proibido e sem autorização da família Jones estava sendo filmado, gritei aos 4 ventos que era um absurdo, uma falta de respeito, uma bobagem, “como ousam!”.
Meu povo, venho por meio desta assumir que errei feio na minha previsão: Stardust é o máximo.
Stardust está em cartaz na Mostra de São Paulo e quando soube disso, foi o primeiro ingresso que comprei e o primeiro filme que assisti via mostra play.
Confesso que demorou uns minutos para eu me acostumar com o ótimo ator Johnny Flynn como nosso Deus das Estrelas.
A voz não é a mesma, mas aos pouquinhos, a gente se acostuma com a voz principalmente porque os trejeitos de Flynn são com certeza os trejeitos de Bowie em 1971, que é quando se passa o filme.
Aliás, uma ideia genial o filme se passar nessa época.
O roteiro mostra a primeira viagem de Bowie para os Estados Unidos. Logo após sua música Space Oddity ter sido um sucesso razoável ele lança The Man Who Sold The World, um álbum que ninguém entendeu, porque todo mundo ficou esperando mais músicas de espaços e estrelas e astronautas.
Mas ele veio com músicas sombrias, de loucura.
Na Inglaterra não sabiam o que fazer com ele, então sua gravadora o manda para essa viagem para tentar que ele se venda do outro lado do lago.
Mas com um problema, que ele aliás não sabia: como ele viajou como turista, sem visto de trabalho, ele não poderia fazer shows. E Bowie achou que estava indo para fazer uma tour de promoção.
O que acontece é que, sem dinheiro, ele embarca em uma road trip com Ron Oberman (o também ótimo Marc Maron), um publicista da gravadora Mercury que acreditava que Bowie seria um superstar.
E como ele diz pra David, para alguém fazer sucesso, só precisa que uma pessoa acredite nesse sucesso. E ali eles já tinham 2 pessoas.
O filme mostra a viagem de entrevistas fracassadas onde um artista “além de seu tempo”, usando vestidos (masculinos) e máscaras de mímico, fala com gente que não quer entender o que ele pensa de verdade, mas com jornalistas, radialistas, donos de bares que querem alguém que cante como todo mundo.
Ninguém na verdade está preparado pra enxergar e presenciar a grandeza mesmo ela estando a um palmo de distância. Única exceção, claro, a tão odiada Angie Bowie (Jena Malone, também ótima, na falta de outro adjetivo), esposa de David, grávida de Zowie Bowie, também conhecido como o diretor, cuidador do espólio do pai e o cara que sempre disse que esse filme não era aprovado pela família, Duncan Jones.
Stardust é muito bem escrito, conta otimamente bem a história do Bowie começando, da loucura em sua família e de como ele estava esperando o momento que ele também ficaria louco, como seu irmão, sua avó, suas tias.
E também mostra em pequenos detalhes, em pedaços de diálogos, as dicas que ele vai recebendo via Marc Bolan, Lou Reed, Iggy Pop e vai montando o quebra cabeças do nada e dele sai o grande personagem do rocknroll de todos os tempos, Ziggy Stardust.
Stardust, o filme, é incrível pela coragem de seu diretor Gabriel Range, pro ter sido feito com tão pouco dinheiro e principalmente por ter sido feito sem nenhuma música do Bowie.
Nenhuminha.
Zero.
Ele canta algumas vezes, sempre músicas que não dele. E isso é genial.
Resumindo, dando minha cara a tapa, fazendo um mea culpa, Stardust é filmão, daqueles filmões que vão ser odiados e vilipendiados por quem não assití-lo mas faça como eu, deixe o ódio de seu coração de lado e se entregue nessa viagem ousadíssima, como foi o próprio.
NOTA: