Family Romance, LLC é o novo filme do (maior? mais doido?) cineasta alemão vivo, o grande Werner Herzog que acabou de estrear no Mubi.
Family Roamnce, LLC é um filme menor de Herzog. Mas um filme menor de um cara como ele é um filme no mínimo muito interessante.
O filme é totalmente estranho, meio ficção, meio documentário com um ponto de partida bizarro: Family Romance, LLC é uma empresa japonesa que oferece família de aluguel para todas as ocasiões.
Quando eu digo que a gente já tá no futuro, você não acredita.
O filme acompanha Yuichi Ishii, o dono da empresa que agora está fazendo o “papel” do pai desaparecido da menina de 12 anos, Mahiro.
Eles se encontram pela primeira vez em um parque e ele conta a história que sumiu porque quando se separou da mãe de Mahiro, formou outra família e sua nova esposa não deixou que ele tivesse contato com a filha.
10 anos depois ele volta e começa um relacionamento com a menina, indo ao parque, comprando doce, roupa, levando para passear, tudo às custas da mãe de Mahiro, que contratou o pai de aluguel.
O que eles não contavam é que Mahiro se aproximaria mais do pseudo pai que da mãe chegando ao ponto de dizer que quer morar com ele, nem que seja dividindo o tempo com a mãe.
Enquanto isso, no meio tempo, Ishii continua os trabalhos doidos de sem empresa.
Sendo um “amigo” de uma mulher que ganhou na loteria ou bizarramente indo fazer pesquisa sobre a nova moda em Tóquio que é fingir o seu próprio velório.
Quem sabe Ishii não oferece isso para algum cliente, não é mesmo?
O filme é curto, tem por volta de 90 minutos, mas poderia ser mais curto ainda já que as “surpresas” são poucas, apesar de sempre chocantes.
Mas o que mais me deixou absolutamente embasbacado foi uma cena com o protagonista Ishii.
Alerta spoiler a partir daqui.
Você foi avisado!
Ishii, o cara que cria mentiras e histórias para as pessoas, que cria vidas e acaba com elas, em certo momento questiona a sua própria vida.
Ele pensa: “será que minha família é mesmo minha família ou tudo isso foi criado por alguém”.
Esse paradoxo filosófico me levou direto a Blade Runner, Caçador de Andróides.
No que pode ser a cena mais emblemática do filme, Deckard, o policial caçador dos robôs que existem por um curto período de tempo sem saber que são robôs porque suas memórias são implantadas, é interpelado por outro policial que lhe entrega um origami de um unicórnio, uma imagem que Deckard sempre vê em sonhos.
A partir daí ele começa a pensar se ele mesmo não seria um andróide criado para acabar com outros andróides e vai rever suas memórias que depois descobrimos que são como lágrimas na chuva.
No filme do Herzog, Ishii chega em sua casa e enxerga através de um vidro fosco o que parecem ser mãos de uma criança e se esconde.
Será?
Fico pensando se o filme inteiro não serviu para esse momento filosófico que dura nem 5 minutos mas que retrata muito bem o que poderia acontecer em uma situação semelhante.
Afinal, quem nunca suspeitou e questionou sua própria existência e sua própria história, que como diria Fellini, só existe da forma que nós a contamos, seja verdade, seja mentira, seja real, seja inventada, o que acharmos que vai soar melhor.
NOTA: 1/2