Vamos começar com os elogios começando pelo título deste filme da Macedônia: uma claquete inteirinha vai pra esse acerto.
Se o nome não fosse o suficiente, Deus É Mulher e seu Nome é Petúnia é um belo de um filme, daqueles que eu amo que começa bontinho, fofinho, engraçadinho e de repente BAHM, vem uma porrada no meio do estômago.
Petúnia é uma mulher que vive em Stip, uma cidadezinha micro no interior da Macedônia careta, atrasada, daquelas com tradições que deveriam ter ficado décadas atrás.
Petúnia tem mais de 30 anos de idade, é solteira, está desempregada porque fez faculdade de História que não lhe garante nada na crise, só, e repito, só ter uma cultura e verve acima de 90% da população de Stip.
Pra piorar na história, ela não é linda, é gorda e mora com seus pais, claro.
Enquanto ela engole (quase) silenciosamente a insolência da mãe, o silêncio do pai, Petúnia tenta.
Um dia saindo de uma entrevista de emprego onde ouve de um escroto que poderia ser seu futuro patrão, que que ela é tão feia e velha que não a comeria nem se ela quisesse, Petúnia extrapola um pouco.
A grande tradição de sua cidade é que uma vez por ano, no inverno, o padre joga uma cruz sagrado no rio e centenas de homens pulam nas águas congelantes para pegar a cruz que garantirá a um deles sorte e prosperidade pelos próximos 365 dias.
Só que enquanto o bando de macho idiota se debate sem saber onde procurar a cruz, Petúnia toda bem vestida e com a adrenalina a flor da pele mergulha no rio e pega a cruz.
O que é super proibido. Super.
A fofa, engraçada, gente boa sai correndo para casa para esconder a cruz e tentar não ser descoberta, afinal, nada melhor do que pisar na macharada, certo?
Pobre Petúnia.
O filme fofo de repente se torna um drama tão pesado e tão poderoso que eu tive até que respirar fundo.
Todo o machismo, a caretice, a violência geral contra a mulher, que vinha sendo mostrada de uma forma até então interessante por não pegar tão pesado, dá uma reviravolta de narrativa e me deu até medo que o filme fosse virar quase que um terror, fiquei bem tenso.
E isso pra mim é a grande coisa do filme, transformar uma personagem em princípio com uma leitura e de repente dar uma reviravolta no clima da história e mudar toda a percepção.
E não se anime porque o filme não tem reviravolta de roteiro, pra nossa sorte, é uma reviravolta de narrativa, estilística, linda.
Tudo porque uma mulher teve a audácia de se meter nos negócios dos homens e o pior, ser melhor que eles.
Lindo demais.
Só uma curiosidade: a página do trailer do filme no youtube foi atacado pela crentalhada doida dizendo que deus não é mulher nada, falando de lacração, seria divertido se não fosse trágico.
NOTA: