PUTA. FILME.
Em maiúsculas mesmo.
O irlandês (olha aí) A Good Woman Is Hard To Find (É Difícil Encontrar uma Mulher Boa, numa tradução literal), é o filme que eu gostaria de ter pelo menos tido a ideia inicial, quiçá, tivesse escrito o roteiro e sonhando mais alto ainda, dirigido.
#alertafilmão dos melhores.
Filmes como este eu acabo achando em pesquisas que vou fazendo sobre filmes interessantes premiados em festivais médios, de gênero, com elenco bom, diretor bom, roteiro bom. São poucos os que prestam de verdade. Mas quando acho um com tanta, mas tanta crítica e review bons, eu até demoro pra assistir de medo da decepção.
Esse ficou na frente da fila por algumas semanas e eu só ia pulando, passando outros na frente por não querer que a promessa fosse maior que a entrega.
Mas como venho dizendo há semanas, o cinema irlandês não tem decepcionado esse ano, com filmes que vão de Vivarium e Calm With Horses, 2 dos melhores de 2020, até filmes lindinhos como End Of Sentence de ontem e horrores bem bons como Sea Fever e Don’t Leave Home.
Daí chega a porrada, o escárnio, o queixo no chão, a atriz do ano, o roteiro perfeito, tudo em A Good Woman Is Hard To Find.
A mulher do título é Sarah (Sarah Bolger, que se entrega de um forma merecedora de todos os prêmios possíveis), um jovem, recente viúva, com 2 filhos pequenos para cuidar sozinha, morando em uma vizinhança nada agradável, com olheiras no meio do rosto e com o filho mais velho que parou de falar por ter presenciado o assassinato do pai.
Fácil, né?
Poderia até não ser tão radical se um belo dia um drigadinho/bandidinho pé de chinelo, Tito, não tivesse entrado na casa da família arrombando a porta, depois de roubar um monte de drogas do traficante do bairro.
Além de esconder a droga lá, ele mesmo resolve ficar pela casa da família por uns dias, enquanto supostamente a poeira baixa e ele então conseguiria vender a droga roubada.
Só que Sarah, a mulher sozinha, ainda sofrendo, sem grana, que precisa desviar das cantadas dos homens lixos do bairro, que vão desde o cara do supermercado até os policiais que vão até sua casa ver se está tudo bem. A mulher que o tempo todo é tirada de prostituta, que tem medo até da própria sombra, não vai deixar por menos ser abusada por bandidinho mequetrefe.
É aquela mulher que diz “me chama de puta mas não chegue perto dos meus filhos”.
E Sarah, que começa o filme como uma coitada que se fode o tempo inteiro, vai se transformando numa pessoa tão poderosa e determinada que eu arrisco em apostar que ela seja uma das principais personagens de 2020.
As imagens de Sarah cheias de sangue e se lavando são das cosias mais punks da semana.
O filme dirigido por Abner Pastoll é uma montanha russa de emoções a partir de uma única ideia que não se perde, não é deixada de lado e acaba sendo levada às últimas consequências no que eu amo chamar de horror da vida real, sem firulas, sem cores primárias, sem trilha de tecladinho anos 70. E não que isso seja ruim, mas temos aqui um cara de personalidade, que mostra de verdade quais são suas ideias.
Sarah é o cúmulo da mãe, da protetora, que não mede esforços e que se joga na frente da bala para salvar seus filhos.
Isso tudo num roteiro absurdamente bem escrito, que atinge níveis altíssimos de perfeição, do desenvolvimento de personagens ao desenvolvimento da história de uma forma nada fácil, porque a história de Sarah e seus problemas não é nada nova mas a forma como é contada e também mostrada, é brilhante.
A Good Woman Is Hard To Find é o sétimo grande filme irlandês de 2020 e tomara que muitos outros venham nessa esteira que promete.
NOTA: