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Se eu fosse daqueles “críticos” de cinema que acham pelo em casca de ovo para justificar seus textos sobre filme, começaria dizendo que Ema é uma corruptela de “mãe”. Ou o contrário.
Se o filme fosse brasileiro, acreditaria nisso, mas como Ema é chileno e por lá mãe se diz madre, acho que a corruptela não passa de uma coincidência tupiniquim que Freud explicaria rapidinho.
Ema é o novo filme do chileno Pablo Larraín, o cara que só faz filme bom, desde que começou lá atrás com Fuga e Tony Manero (co-produzidos pelos meus amigos da Latina Estudio de São Paulo).
Ema é uma dançarina de um grupo grande e importante, casada com o diretor e coreógrafo do grupo e amiga das bailarinas anarquistas radicais, como eu as chamava mentalmente enquanto via o filme.
Ema e Gastón estão numa crise desgraçada porque acabaram de devolver o filho que haviam adotado porque o menino jogou álcool e tacou fogo no rosto da irmã de Ema, que sobreviveu por pouco.
Esse devolver da criança balançou todas as estruturas do casal. Só que Ema resolveu lidar com isso de uma forma bem particular, mais radical, poderia até dizer.
Ema é um filme maravilhoso com um problema gigante que quase acaba com sua importância: o roteiro é muito ruim.
Tão ruim, mas tão bem resolvido pelo diretor Larraín, que é um dos roteiristas, que o filme mereceria um estudo acadêmico.
Mais trilha:
O roteiro é cheio de buracos e suposições que cerca a personagem principal de expectativas que não se concretizam quando o filme termina.
E isso é bom. Só que não era a intenção do roteiro, aí está seu erro.
A história da mãe Ema que não parece uma mãe, como dizem, que parece uma guerreira platinada com seu cabelo sempre penteado para trás e suas roupas de ginástica que lhe dão um ar de displicência e de flexibilidade ao mesmo tempo, é uma história que deveria ter sido inventada e contada.
A mulher que faz o que quer, como quer, que se arrepende e vai lá consertar seus erros, que não poupa esforços para atingir os seus objetivos e o pios, os atinge, de uma forma ou de outra.
Essa mulher deveria sim existir no cinema.
Para sua sorte, a de Ema, sua história foi contada por um diretor que sabe o que faz e como faz.
Larraín é um mestre do enquadramento e do movimento de câmera.
Eu achava que Jackie tinha sido o seu ápice, que lá ele tivesse chegado na perfeição da câmera como contadora de história.
Mas em Ema ele sobre mais um degrau nessa escalada e mostra que sempre há mais a ser feito.
Larraín é daqueles diretores com uma mão tão boa e um olhar tão perfeito que quando eu penso agora no elenco do filme, mais de 24 horas depois de tê-lo assistido, não enxergo os atores e só as personagens.
Mariana Di Girolamo, Cristian Suares, Gael García Bernal e Paola Giannini nunca mais serão os mesmos depois deste filme, com destaque total a Mariana, uma atriz entregue de corpo e alma a uma personagem que é total corpo só que com uma alma maior ainda.
Outro destaque para mim é a trilha do também chileno, dj queridinho Nicolas Jarr.
Se o filósofo já disse que saber fazer trilha de filme é saber onde não colocar música, Jarr rasgou essa regra e colocou música em praticamente 100% das cenas de Ema, uma música linda, quase pop mas estranha, que vai dando um ritmo peculiar ao filme e ajuda a contar a história de outra forma ainda, diferente do roteiro, do movimento de câmera e da ação do elenco.
Mas o roteiro, ah o roteiro, acabou comendo meia claquete na decisão final.
Emma estreou ontem, dia 1º de maio no Mubi, coisa mais linda e é só clicar aqui para procurar o filme.
NOTA: 1/2