Vamos ao que viemos: Moffie é o Beach Rats de 2020.
Filme gay muito, mas muito bem filmado, bem escrito e com o mesmo nível de elenco lindo.
Só que Moffie tem o peso político de um Moonlight, umas história de amor gay totalmente proibida.
O filme se passa no início dos anos 1980 na África do Sul ainda sob o apartheid, quando o serviço militar é obrigatório para jovens de 16 anos de idade.
E lá vai Nicholas cumprir seus 2 anos na fronteira com a comunista Angola, aprender a proteger o então país com o regime mais preconceituoso e segregador do mundo fosse “invadido” pela União Soviética e Cuba.
Ah, esses comunistas, sempre os vilões dos regimes autoritários de direita.
Nicholas, um descendente de ingleses, e por si só sofrendo preconceito pelos brancos africanos, descobre o amor sob as trincheiras.
Literalmente.
O filme do diretor Oliver Hermanus, um diretor sul africano preto, que baseou seu roteiro numa biografia, faz um dos filmes mais fortes e mais potentes do ano, mostrando uma dose de preconceito e violência racial de deixar o público incomodado nos dias de hoje, mostrando um único personagem preto o filme inteiro.
E essa escolha foi muito acertada porque tira uma carga que seria óbvia de ativismo do roteiro.
Moffie mostra o preconceito do branco com o branco e em outro nível, do hétero com o homossexual, 40 anos atrás.
Nada no filme é surpreendente, nada nos deixa de queixo caído e ao mesmo tempo, por causa da genialidade do diretor Hermanus, tudo é contado e fotografado e mostrado como pouco visto ultimamente.
O ritmo de Moffie, a fotografia, a direção de arte, a beleza escultural dos homens, são usadas em função da história de amor. Proibida. E linda como a luz do filme.
Nicholas andando nas pontas dos dedos sobre cascas de ovos tentando entender e aproveitar esse sentimento que cria as borboletas em seu estômago é das coisas mais delicadas e sutis do ano, todos os méritos a Kai Luke Brümmer por criar um personagem tão potente.
A vantagem de um filme pequeno de uma cinematografia periférica, com uma produtora forte por trás, dá ao diretor de Moffie a liberdade de criar um universo paradoxal único, onde morte e amor, onde o preconceito de todos os lados e a vontade de estar perto, culminam em um filme se não perfeito (talvez por causa da trilha), à beira de estar no panteão dos maiores do ano.
NOTA: