The Kingmaker já é o documentário mais fodão de 2020 de hoje, 5 de março.
O filme sobre a (ainda?) Primeira Dama das Filipinas Imelda Marcos é tão bom que me deixou de queixo caído por mais de 1 hora, travando até o meu ATM mandibular, um horror.
Se você, como eu, quiser ver o filme por causa da coleção de dezenas de milhares de sapatos de Imelda, prepare-se: o que menos importa no filme são os caríssimos Louboutins, mesmo que eles sejam uma metáfora boa.
Só que a diretora do filme, a cada vez melhor Lauren Greenfield (de Generation Wealth e The Queen of Versailles) teve a manha de não cair na armadilha fácil dessa coleção. O que ela nos mostra deixa os sapatos no chinelo (ops, desculpe, inevitável).
Imelda Marcos era uma miss por quem o então deputado Ferdinando Marcos se apaixonou de cara e com quem, depois de 11 dias, já casou.
Desde então ela foi se mostrando uma mulher forte, muito inteligente, muito esperta, o braço direito e o esquerdo do marido, peça fundamental para que ele tivesse sido eleito presidente do país.
O primeiro terço do filme mostra muito dessa mulher poderosa, de sua história com o marido, do poder que eles tinham e mostra muito de sua fortuna.
Imelda não era só uma bilionária que frequentava o Studio 54 e era amiga do Warhol.
Ela era a interlocutora de seu marido Presidente das Filipinas com grandes líderes mundias: vemos imagens dela com Fidel, Mao, presidentes americanos, russos e todo mundo que importava na Guerra Fria, nos anos 1960/70.
Daí entra o segundo terço do filme nos mostrando que quanto mais viajava, mais Imelda gastava.
Milhões de dólares, era o que todo mundo acreditava. Mas não.
Ela comprava todas as joias que conseguia, comprava mansões em Los Angeles, comprou a cobertura mais cobiçada de Nova Iorque, Comprava ilhas, queria tudo e teve tudo.
Enquanto tudo isso, as Filipinas indo ralo abaixo, o país desmoronando, a desgraça nas ruas e Imelda, a família Marcos com Ferdinando à frente. E como todo bom Ditador (com D maiúsculo), não se preocupando que, enquanto ninguém tinha o que comer nas ruas de suas cidades, mandava trazer centenas de animais africanos e os colocava em uma ilha porque seria “lindo” que as Filipinas também tivessem girafas e zebras e elefantes e leões.
Depois de muitos anos de abuso e roubo na cara dura e de levar o país à falência, Ferdinando é expulso com sua família de seu país e o novo governo (e a população) tenta reaver o dinheiro roubado a qualquer custo.
A terceira parte do documentário mostra Imelda morando nos EUA “sem dinheiro”, tadinha, e como ela (e a família) consegui voltar para as Filipinas, apesar de todos os protestos possíveis.
E o pior, o filme mostra como aos poucos toda a família Marcos vai voltando a ter um papel importante na política do país e como seu jogo de podres poderes está voltando a ser hoje em dia parte importante do governo de lá.
Como disse, pra quem veio ver o filme dos sapatos como eu, vai sair com um banho de realidade fria.
O mal que essa mulher fez, continua fazendo e pior, não tem ressentimento nenhum por nada do que acontece, inclusive acha que ela está certíssima, é de querer pular no pescoço da fofa.
Cenas na casa dela, com quadros de Michelangelo, Matisse, Monet, Picasso, pendurados pela sala e logo depois trocados por fotos de família, porque a ostentação foi percebida pela polícia, é um absurdo.
Ela contar que fugiu de seu país com caixas de lenços de papel cheias de diamantes, é revoltante.
Ver a população invadir a mansão da família e brigar pela comida congelada do freezer é de doer a alma.
E Imelda, alheia ao mundo real.
A “mãe das Filipinas” continua até o hoje, aos 90 anos de idade, andando pelas ruas, distribuindo dinheiro para as crianças, como um Silvio Santos de vestido, indo a hospitais que “ela construiu” e chorando ao ver a degradação, dizendo que não se conforma que a ilha dos animais africanos está sem conservação, na maior cara de pau, é o grande atestado de sociopatia que ela poderia dar contra ela mesma.
Não existe coleção de sapatos, closets gigantescos com vestidos espalhafatosos com mangas bufantes, jóias absurdamente lindas e caras, obras de arte nas paredes, nada disso esconde a figura ridícula dessa mulher que cometeu todos os crimes que podia contra a humanidade de um povo que ela dizia amar tanto. A máscara de “mãe” vai caindo a cada história horrorosa que ela assume durante o filme e que não lhe faz a menor diferença em assumir.
Como diz o poster do filme, a percepção é real, a verdade que não é.
NOTA: 1/2