Daqui pra frente, quando procurarmos referências de drama familiar, o primeiro filme da lista deve ser o dinamarquês Rainha de Copas.
Pior que drama familiar, Rainha de Copas é o tipo de filme que eu odeio (amo, na verdade): o filme com desgraça anunciada.
Quando assisti Romeu e Julieta do Baz Luhrman pela primeira vez no cinema, a plateia toda ficou gritando para que a Julieta não tomasse o veneno sobre o cadáver de Romeu. Mesmo sabendo que aquilo seria impossível acontecer. A tragédia anunciada é um horror.
A Rainha de Copas é Anne, uma advogada de sucesso, que cuida de casos de abuso de vulneráveis, de menores de idade, de estupro e é bem sucedida em sua carreira. Casada, com 2 filhas gêmeas, tem sua vida virada de cabeça para baixo quando o filho quase bem crescido do primeiro casamento de seu marido vem morar com eles.
E advinha o que acontece?
Anne é vivida pela ótima Trine Dyrholm, atriz que tinha me deixado impressionado em A Comunidade e que aqui mostra que é das grandes, porque vai a extremos no corpo da mãe que tem um caso com o filho do marido.
E isso não é spoiler, é o enredo do filme, ele existe pelo romance.
Logo que o jovem Gustav vai morar na casa de sua nova família, seu pai e sua madastra fazem o que podem para que ele se sinta bem vindo.
O que Anne não esperava era que ela, com toda sua frieza e “foco na vida” (como diz seu marido) se deixaria abalar pelo jovem delinquente e suas tatuagens mal feitas e seus gemidos com a namorada.
A diretora May el-Toukhy cria um universo idílico para que essa história aconteça, uma casa toda envidraçada rodeada por uma floresta linda, numa metáfora linda da própria personagem principal, a rainha desnudada, quase devassada, de paredes de vidro que são bem resistentes mas que praticamente abertas a quem quiser enxergar.
E a sua volta ela tem um mundo onde ela pode viver sua vida sem que sua família veja ou participe, apesar deles estarem a metros de distância.
O filme todo Anne lê Alice para suas filhas, passagens onde a Rainha de Copas, como todos bem lembramos, manda que as cabeças sejam cortadas pelos motivos mais insignificantes.
A Rainha de Copas do filme, a advogada da causa mais nobre de todas, usa de seu poder como pode e quando quer.
E como no livro, quando a Rainha pede uma cabeça, ela lhe é entregue numa bandeja de prata.
NOTA: 1/2