Falar que Megalopolis, o novo filme de Francis Ford Coppola, é ruim, é chutar cachorro morto.
Ninguém em sã consciência, ou sem ter ganho presentes do próprio Coppola, teve coragem de elogiar o épico que o diretor tenta filmar desde 1977.
Contrária a crença popular, nenhum estúdio, ou melhor, nenhum produtor executivo de nenhum estúdio quis financiar o filme. E quando aqui eu xingaria os executivos, os aplaudo por terem a visão, desde 1977, que Megalopolis seria a maior roubada, para não dizer cagada, da carreira de Francis.
Ao invés de montar uma banda punk em 1977, Francis continuou tentando dar vida a seu sonho de vida e só depois de ficar finalmente milionário, não por seus filmes mas por sua vinícola, ele usou mais de 120 milhões de dólares de seu próprio bolso para que finalmente sua história que compara o Império Romano com o “império americano”, ou a queda de ambos, só que quem caiu aqui foi o próprio filme.
As notícias das filmagens iam de animadoras, com Adam Driver à frente de um elenco cheio de figurões, passando pelos escândalos que foram de acusações de abuso sexual do próprio diretor feita por várias atrizes figurantes até o escândalo do trailer do filme ser lançado com vários elogios de críticos e veículos que nunca existiram, revelado pela Variety.
Com um jogo de cintura de um ancião de 85 anos, Coppola conseguiu lançar seu filme em Cannes, de onde saiu com as piores críticas possíveis, mas que o time do filme diz que foram críticas polarizadas, onde a polarização ficou entre filme ruim e filme ridículo.
Coppola esteve no Brasil semana passada onde lançou o filme na Mostra de Cinema de São Paulo, onde também foi agraciado com o troféu Leon Cakoff por sua carreira.
Mas e o filme? É ruim e pronto?
Sim, péssimo. Mal feito, com o roteiro mais esdrúxulo, raso e com os piores diálogos possíveis ditos por um elenco que beira a caricatice.
Eu tive a impressão de já ter assistido cada cena que via na tela do cinema, copiadas descaradamente de Scorcese, Ridley Scott, Win Wenders, Kurosawa e a lista é gigante. Essas cenas não eram homenagens. Parece que algum assistente de direção criou um “monstro” do filme, uma versão com cenas existentes, e o fofo do diretor resolveu copiar cada uma delas na cara dura.
Eu prometo que fui ao cinema com a maior boa vontade querendo gostar do filme. Eu ficava pensando que Megalopolis poderia ser o novo Do Fundo do Coração, o filme que Coppola recriou Las Vegas em estúdio, em cenários lindos, que o fez falir miseravelmente. Só que naquele caso, o produto final é maravilhoso, com uma das trilhas sonoras mais incríveis da história de Hollywood, viva Tom Waits.
Não teve jeito.
Vieram me falar “ah, mas o Coppola pode tudo, ele tem história pra fazer o que quiser”.
Verdade. Igual o teu avô “doidinho”, que pode fazer o que quiser porque viveu 90 anos. Que pode passar a mão nas amigas da neta na festinha de aniversário, que pode chamar os amigos de infância pra passar vergonha com ele, como Coppola fez com Dustin Hoffman, que diz as piores frases do filme, Giancarlo Sposito como o prefeito falido de Nova Roma, tipo um prefeito de São Paulo e Jon Voight, que parece que vai desmoronar num de seus piores personagens.
E pode gastar os milhões de dólares que juntou por anos trabalhando com algo diferente de sua “vocação” cinematográfica por seu sonho de vida.
Tenho pena? Claro que não.
Ou melhor, talvez tenha pena do filme ruim, por admirar a tenacidade de Coppola, por finalmente ter realizado seu sonho, mesmo que esse sonho seja o maior flop da história do cinema.
NOTA: