Se tem uma coisa que eu odeio (AMO!) assistir em filmes iranianos, árabes, muçulmanos em geral é quando o marido morre e a esposa perde tudo o que ele tinha, do carro à casa, passando pelos móveis, dinheiro, herança, literalmente tudo.
Pra mim poucas coisas são mais violentas hoje no cinema do que esse detalhe da justiça e da cultura desses países, como diz um personagem deste filme.
In Flames é um filme paquistanês (e canadense também) onde uma viúva que mora com sua filha de 25 anos e seu filho adolescente, acaba de perder o pai e por isso o tio fofo dela, primeira tenta que ela assine uns papéis e depois entra na justiça para tirá-la do apartamento onde ela vive com a família e onde vivia o pai/irmão falecido.
Quando começou essa papagaiada na história o ódio veio em dose dupla: primeiro pelo fato em si e depois porque eu de verdade não aguento mais ver filme com esse foco de roteiro.
Para a minha surpresa, o diretor Zarrar Kahn é mais esperto que eu e usou esse “detalhe” escroto para ser um fio condutor de seu In Flames, que na verdade é um horror psicológico “slow burn”, daqueles que vão queimando aos poucos e que explode com um final maravilhoso.
O filme é sobre a viúva e os problemas que ela precisa resolver para conseguir sobreviver em sua nova situação.
Mas o filme é também sobre sua filha de 25 anos que estuda para entrar na faculdade de medicina e começa a se interessar pelo primo de uma de suas colegas.
O que ela não esperava é que alguns outros homens começaram a se interessar por ela não das melhores formas possíveis.
Mas ela é uma mulher forte, decidida, que sabe se defender, sabe se cuidar e tem certeza que sabe cuidar de sua família também.
Só faltou contar para os homens escrotos que vivem a sua volta e se aproveitam como podem e como não podem, deixando o horror da vida real cada vez mais pesado.
Mas não é só esse horror que vemos em In Flames, é também um horror que perdura, que não vai embora, que pesa nos ombros das mulheres da família e que o diretor Kahn faz questão de nos mostrar para que a presenciemos tanto o sofrimento quanto o fim do fardo. E não que esse fim seja bom ou satisfatório.
NOTA: