Se não fosse por mais nada, o diretor Andrew Dominik “cometeu” uma sequência genial no documentário This Much I Know To Be True onde ele editou Nick Cave falando de Warren Ellis e Ellis falando de Cave, sem que um estivesse na presença do outro quando foram filmados e onde as declarações de ambos se complementam perfeitamente. Sendo que essas declarações não necessariamente boas.
Este petardo lançado pelo Mubi é mais um capítulo na história tão prolífica e pertinente e importante de Nick Cave, o australiano que canta, compõe, escreve poesia, prosa, roteiro e que se for seu amigo ainda faz umas pontas em filmes importantes, né Win Wenders?
Este documentário em específico mostra o processo de composição dos álbuns Ghosteen de Cave com sua ainda banda The Bad Seeds e de seu álbum posterior Carnage agora só com Warren Ellis, o também músico australiano que nas palavras do próprio Cave, mandou todo mundo embora dos Bad Seeds, um por um, sobrando só seu vocalista, Nick Cave, que seria o próximo “chutado” pelo barbudão.
Esses momentos de conversas e quase delírios entre os números musicais dão a uma aura de documentário transcendental, já que a filmagem do show em si, com uma luz estroboscópica contínua e câmeras em trilhos circulares infinitos seriam o suficiente para que o filme entrasse no panteão dos clássicos ao lado de Stop Making Sense dos Talking Heads dirigido pelo saudoso Jonathan Demme ou de American Utopia de David Byrne dirigido pelo Spike Lee.
Só vou contar mais uma sequência icônica, já que todos os entre atos parecem ser inesquecíveis.
A diva Marianne Faithfull faz uma participação extra especial no filme e por causa de seu estado de saúde, usa um aparelho para ajudar na respiração que em princípio ela não quer que apareça no filme, até ser lembrada pelo diretor Dominik que aquilo era um documentário e que tudo estava sendo filmado.
Ela muda de assunto com uma delicadeza tão grande, falando do apelido australiano de Warren Ellis que a minha preocupação com Marianne foi esquecida naquele exato momento.
Momento esse que revendo, tem um dedo invisível de direção que de novo, me deixou de joelhos agradecendo a parceria de Dominick e Cave, que vem desde o outro filme do cantor, One More Time With Feeling, onde Dominik já mostrava que ele não era só um diretor que deixava as coisas acontecerem a frente de suas lentes, mas sim um diretor que estava a fazer cinema, a dirigir seu elenco mesmo que fossem pessoas reais e não atores e atrizes seguindo um roteiro pré determinado.
De novo aqui em This Much I Know To Be True, a mão perfeita do diretor, o roteiro que já se escrevia em tempo real em sua mente, fez do documentário uma oração, um veículo não só de adoração e devoção mas também de crença no poder transformador da música.
NOTA: