Na coletiva de imprensa da Mostra de São Paulo, onde é apresentado o festival, depois do café da manhã, da Renata de Almeida, a diretora da Mostra, nos contar sobre a produção e como a 48a edição da Mostra de São Paulo ganhou corpo e estreia dia 16 de outubro com o filme Maria, com a Angelina Jolie fazendo a Maria Callas dirigido pelo Pablo Larrain.
Depois de tudo fomos presenteados com a primeira sessão no Brasil de Anora, o filme do Sean Baker vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes deste ano.
Minhas expectativas eram altas porque Baker é o diretor de Tangerine, Projeto Flórida e Red Rocket, que são incríveis.
Anora é também incrível, mas não entendi a Palma de Ouro. Mesmo.
O filme conta a história de Ani, a Anora do título que é seu nome de nascença, como sua avó usbequi-russa ainda a chama.
Ani é dançarina exótica no HQ, um clube daqueles que a gente está super acostumado a ver em filmes e séries, cheio de tretas, dorgas só que aqui, como deve ser na vida real, muito peito de fora.
Inclusive da incrível Mickey Madison, a atriz que vive Ani, uma das atrizes mais legais da tv americana desde muito tempo, quando ela estrelava ao lado de Pamela Adlon a série Better Things que eu amo rever.
Anora já foi comparado a Uma Linda Mulher da Julia Roberts ou a Hustlers da J-lo (que eu tanto amei mas depois de Anora retiro quase muito do meu amor).
Só que a genialidade fílmica de Sean Baker ao contar sua “comédia romântica” sobre a prostituta, quer dizer, sobre a dançarina exótica que se “apaixona” e vive dias de romance, dorgas, pop e muito sexo com um jovem russo bilionário, Ivan, que resolve casar com Ani ao invés de voltar para a Rússia trabalhar nas empresas do pai.
Anora, o filme, é muito mais “plausível”, mais pé no chão, do que seus antecessores que romantizam a história de amor da prostituta com o cliente rico.
Aqui a gente vê Ani tosca, grossa, pelada, esperta, gente boa, mas principalmente, pelo menos pra mim, uma mulher que teria sido minha amiga com certeza.
Ela, a personagem, é o extremo oposto da personagem da Juia Roberts no Uma Linda Mulher.
Ivan, ou Vânia, o playboy russo, é tudo o que a gente espera de um playboy bilionário russo: tosco, mimado, maconheiraço, lokão de dorgas, gastador contumaz, que pergunta para Ani quanto custa para ela ficar 1 semana inteira com ele, depois de gostar muito dela no puteiro, ops, na boate onde ela trabalha.
Ele é o extremo oposto do personagem do Richard Gere no filme da Julia que era fino, educado, mas também esbanjador, só que era um homem que não existe. Já Ivan existe e a gente vê esse cara todos os dias no instagram.
Esse é o primeiro ponto principal de Anora, um filme lançado em 2024 com a cara do mundo de 2024, com personagens que existem em 2024 e com uma história já contada mas não contada desta forma.
Eu disse que o filme é uma comédia romântica mas eu me corrijo dizendo que é uma comédia. E também um drama. Com o melhor final possível, que aliás ganhou meu coração e meia claquete de nota.
Depois que Ivan contrata Ani por uma semana e tem o melhor sexo que já teve na vida, como ele diz, ele a pede em casamento, casa com ela em Las Vegas e o caos nasce.
Só que o caos vem em forma de 3 capangas armênios que deveriam resolver esse casamento do bilionário com a prostituta, que trabalham para a família bilionária russa, mas que no final das contas mais atrapalham do que ajudam e isso transforma o filme de Sean Baker na obra que leva a Palma de Ouro.
Toda a violência e truculência que a gente espera de capangas de bilionários russos vem em forma de quase esquetes de humor vividos pelos 3 Patetas. É muito bom.
Um detalhe importante em relação ao filme é que Anora, um filme sobre uma dançarina exótica, onde a atriz Mickey Madison passa a maior parte semi nua fazendo cenas de sexo, é dirigido por um homem, Sean Baker, e produzida por sua esposa Samantha Quan. Mickey diz que lhe foi oferecida uma “coordenadora de intimidade”, alguém muito usado nos filmes hollywoodianos nos dias de hoje para que elenco e equipe se sintam confortáveis ao filmarem as cenas mais íntimas. Em Anora, Mickey diz que não quis tal coordenadora porque o casal Baker e Quan a deixaram muito confortável no quase 1 ano que eles ficaram em pré produção e produção e filmagem, algo extremamente raro nos dias de hoje e que pra mim é um ponto forte de Anora, já que hoje em dia Hollywood coreografa tanto as cenas mais íntimas que cada vez menos o sexo é visto nesses filmes.
Anora tem sexo e nudezcomo há muito não víamos, tem drogas como imagino que seria na vida real desses playboys e principalmente tem uma escolha tão ousada que não é vista há décadas também neste nível de excelência: a comédia como fio condutor de uma história que mal contada poderia ter caído no piegas ou no violento ou até mesmo no abusivo.
Selo Billy Wilder de aprovação. Mas não tanto pra levar a Palma de Ouro, na minha opinião.
NOTA: 1/2