O meu festival preferido, o In-Edit Brasil, estreou com chave de ouro.
Ou melhor, com um documentário de ouro.
Em meio a uma das melhores seleções de todas as edições do festival, ontem assisti Devo, provavelmente o documentário do ano, sobre uma das mais incríveis e mais subestimadas bandas da história do rock e quiçá, da música americana.
Sabe aquela história do “artista à frente do seu tempo”?
Essa é a história do Devo que começou lá no início dos anos 1970 com a filosofia mais específica e incrível, digamos assim, e com a música mais experimental possível que depois de ver um show dos Ramones, entendeu que precisavam tocar “mais rápido” e depois de muita tentativa e erro, chegaram ao ápice de suas carreiras como uma das maiores bandas da new wave americana, aquela música pós punk, mais alegre, colorida, com cara de divertida, que andavam lado a lado dos B-52’s, por exemplo, apesar de serem quase extremos opostos.
Devo, o documentário, é contado pelos 2 principais músicos da banda, os geniais, sim, aqui o adjetivo é usado da forma mais apropriada possível, Mark Mothersbaugh e Gerald Casale.
É lindo descobrir que a teoria da banda sobre a De-Evolução, sobre a humanidade estar ficando mais estúpida, foi criada a partir de livros lidos e relidos, papos entre os amigos da faculdade que nem sonhavam em fazer música, que assistiram filmes e piraram com o clássico A Ilha das Almas Selvagens, de 1932, escrito por outro gênio, desta vez da literatura de ficção científica, H. G. Wells.
A partir de toda teoria e filosofia criadas, ele entenderam que fazer música e tocar em ao vivo poderia fazer com que suas ideias chegassem a um público imediato e logo perceberam que eles não podiam deixar de fazer o que queriam, como queriam, mesmo que não ganhassem dinheiro nenhum, e também entenderam que o áudio visual era muito importante para sua mensagem, com panfletos, posters e logo com filmes sobre suas músicas, o que muitos anos depois viriam a ser chamados de videoclipes.
Inclusive quando a MTV entrou no ar, a maioria da música que eles veiculavam vinha dos clipes do Devo, que a partir daí, mesmo já tendo uma gravadora e discos lançados, sua carreira deslanchou.
No documentário a gente vê como pessoas inteligentes e sensíveis o suficiente podem e devem usar todos os percalços e sucessos de suas vidas e de suas carreiras como aprendizados para repensar, redirecionar e crescer.
Assistir eles contarem como eles descobriram que poderiam ser uma banda de verdade como descobriram David Bowie, que virou seu norte e depois serem apresentados pelo próprio ídolo em um de seus shows mais importantes é emocionante e mostra que esse tipo de acontecimento pode mudar carreiras, mesmo parecendo um evento de menor importância.
Louros devem ir para o diretor Chris Smith, que entendeu muito bem seu objeto documentado, usou e abusou de toda iconografia da banda, seu estilo pro punk, sua auto referência, seus vídeos que podemos chamar de revolucionários, já que eles faziam clipes antes dos clipes existirem.
Por isso Smith nos entrega uma documentário que é também um delírio visual, uma chacoalhada cinematográfica, um deleite fílmico.
Para mim, fãzoca do Devo, foi lindo cantar, me emocionar, entender cada vez mais e ver imagens que eu nem sabia que existiam.
E mesmo se você não for tão fã, mas se gostar de rock, de música boa e de música inteligente, divertida e muito acima da média, referência mesmo, vai amar Devo, o filme, a filosofia, a de evolução, os visuais, a música e o universo dos homens máquinas.
NOTA: 1/2