Assumo: eu AMO documentários sobre sitas, cultos e seus “participantes”.
Mais do que a curiosidade pelo que fazem lá dentro, o que é sempre meio que a mesma coisa, o que me interessa é entender como e porque as pessoas participam desses grupos absurdos e pior ainda, como elas não percebem que estão participando de grupos absurdos.
A grande maioria dessas seitas é sempre encabeçada por um homem que deve ser muito, mas muito esperto/inteligente/perspicaz, que consegue cooptar muita gente para viver sob seus “ensinamentos” (aspas gigantes para ensinamentos) ou para sua filosofia de vida e de mundo.
Esse povo sempre vive em sistemas de castas com esse homem sempre meio que em trono de ouro, sem fazer nada, só mandando, desmandando, mal tratando e falando um monte de absurdo geralmente sobre o fim do mundo e o quanto seus seguidores vão se salvar.
De uma forma ou de outra.
Isso porque algumas poucas seitas chegam a radicalizarem: o chefe marca uma data para o fim do mundo e se o mundo não termina, eles todos se suicidam.
Ou no caso deste filme, o “poderoso” truqueiro Antares de la Luz, ao não morrer com sua meia dúzia (literalmente) de seguidores, no dia 21 de dezembro de 2012, o fim do mundo maia, ele inventou que eles teriam mais 3 meses de vida, que foi um erro de cálculo.
A história de Antares é bizarra.
Ele era um músico alternativo em Santiago, no Chile até que começou a tomar muito, mas muito ayahuasca e “virar” não um enviado de Deus, mas para alguns a reencarnação de Jesus e para a meia dúzia dos próximos, o próprio Deus.
E pra convencer esse povo de quem ele seria, Antares entupia seus seguidores de ayahuasca e conduzia suas mirações para que eles entrassem na história do charlatão e fizessem tudo, mas tudo mesmo que o tal iluminado mandava.
E ele mandava, batia, abusava de todo mundo e não fazia nada. Como todos esses “mestres” que parecem que leem um manualzinho de como ser escroto e seguem ao pé da letra.
Só que Antares foi além.
Ao invés de se suicidar com seus seguidores, ele primeiro matou animal de estimação de um deles dizendo que todo mundo tinha que se desprender de seu ego, de suas posses, fazendo com que todos os seus seguidores se separassem totalmente de suas famílias, sem dar notícias, até mesmo de seus filhos e pais.
Volto ao que disse antes: qual o limite dessas pessoas ao se entregarem de corpo e alma a esses charlatães, o limite de acender uma luzinha vermelha e eles perceberem que seu guru é na verdade um canalha?
Não é quando eles tem que largar suas famílias, seus pais, seus filhos?
Não é quando eles tem que ser seus escravos sexuais?
Meio spoiler a frente!
E quando eles fazem um ritual com um recém nascido, filho do próprio Antares com uma das seguidores que na verdade é mulher de outro seguidor mas que ele escolheu pra ser sua esposa da vez, a engravidou e resolveu que seu filho, que nasceu antes do que ele queria e que se chama Jésus, na verdade é filho do diabo e veio para matá-lo.
Então ele precisa morrer.
Aos 3 dias de vida.
De todos os filmes sobre seitas e cultos, não tinha visto nenhum onde rituais com sacrifício humano tinham acontecido, ainda mais no século XXI. Ainda mais aqui do lado, no Chile.
O filme tem toda a história contada por um dos seguidores de Antares, ou o principal dos seguidores, o cara responsável por grande parte das atrocidades cometidas pelo charlatão, o cara que todo mundo dizia ser muito inteligente mas que só se deu conta do que fazia e onde estava tarde demais. E nem por sua própria esperteza, digamos assim, já que vemos que ele nem era tão esperto assim. E ainda reclama que as pessoas não o perdoam, mesmo depois de tanto tempo, mesmo depois da cadeia, mesmo depois de tudo.
Idiota.
NOTA: