Olha só, quem diria.
Parece que o Bradley Cooper, em sua incarnação diretor de filmes, estudou muito os diretores de cinema “estilosinhos”, aqueles que impressionam publicitários, tipo o Iñarritú, para fazer Maestro, a tão falada e aguardada cinebiografia do grande Leonard Bernstein.
O filme vem há muito tempo sendo “preparado”, com Scorsese como principal produtor e Spielberg como diretor que anos atrás chamou Bradley para ser o seu Bernstein.
Só que Bradley se animou com Nasce Uma Estrela e pediu para dirigir o filme, já com tudo engatilhado e aqui temos o filme lançado pela Netflix, promessa para premiações infindas só que na minha opinião, uma grande chatice.
O começo de Maestro promete ser tão chato quanto Birdman, aquele filme sem cortes, com câmera atravessando paredes, de ponta cabeça, mudando cenários. Como eu disse, coisas que publicitários adoram colocar em comerciais toscos que ninguém assiste e ganham leões em Cannes.
O filme tenta convencer todo mundo primeiro que Bernstein era bissexual e depois um gênio da música.
Aqui vemos que ele era um cara gay que se casou com uma atriz incrível, Felicia Montealegre, vivida pela mais incrível ainda Carey Mulligan, que pelo filme não fazia ideia da quantidade de “namorados” que o cara tinha e que chegou uma hora, depois de décadas de casamento, ela se encheu por não ser quem Leonard pegava na mão diante os concertos.
Quanto a história de gênio, depois deste filme eu hoje tenho o mesmo sentimento que tenho a respeito do Elvis, depois de 2 filmes sobre o cantor: quanto tempo a gente vai ter que admirar esses gênios escrotos, abusadores, narcisistas?
Se era pra eu ter saído do filme babando no Bernstein e querendo ouvir as gravaçnoes de suas conduções ou de suas trilhas premiadas, erraram.
Saí do longuíssimo filme de saco cheio, torcendo para que seus filhos consigam perdoar o escroto que ele foi, principalmente com a esposa Felicia.
Aliás, todo mundo diz que a Carey deveria ganhar o Oscar por esse filme mas eu discordo. Ela tem poucos momentos brilhantes, um feito pra Oscar que é a discussão que ela tem com o marido quando ela diz que vai largá-lo, gritando muito, em seu apartamento em Nova York enquanto vemos os balões gigantes da parada de dia de ação de graças pela janela.
O Snoopy passando e ela chorando é bem bonito e o povo do Oscar adora uma gritaria, né?
Agora quem me irritou de verdade foi o Bernstein do Cooper, que à medida que o tempo vai passando, ele vai ficando cada vez mais caricato. Não sei se na vida real foi assim mas essa decisão de construção de personagem me deixou meio chocado até porque o cara só falta falar outra língua depois de “velho”.
Mas Maestro não é de todo ruim.
A fotografia do colaborador usual do Aronofsky, Matthew Libatique, é belíssima, não só iluminando espaços gigantes como os closes espertões do filme e conseguindo dar vida a todo malabarismo que Cooper faz como um diretor que quer aparecer mais que seu próprio personagem super aparecido.
O que me impressionou muito no filme foi a edição ser cheia de silêncios, de pausas, como em uma partitura da música mais erudita de todas. Mas essas pausas são sempre do Cooper, que assim faz seu Bernstein não só brilhar mas também conduzir a reação do espectador.
A gente sempre fica esperando um suspiro mais longo, uma pausa dramática mais tensa, para entender o que vem por aí. E vem um monte.
NOTA: