Tem gente por aí querendo, ou melhor, tentando fazer um paralelo entre o novo filme do Wonka e a indústria de cinema de Hollywood onde o visionário e fofo e mágico Wonka do Timothé Chalamet e do diretor Paul King representaria o sonhador do cinema, o artista em sua forma mais pura que tenta quebrar o teto com seus doces que fazem flutuar mas que tem as asas cortadas pelo “cartel do chocolate”, pelos grandes estúdios que de cara enxergam a (pseudo) genialidade e a novidade, experimentam o chocolate que é melhor que o que tal cartel produz e transformam a vida do jovem artista em um inferno para conseguir vender meia dúzia de doces.
Isso tudo seria lindo e óbvio demais, um paralelo mostrado desde 1971 quando o filme com Gene Wilder foi lançado e provavelmente desde que o livro do Gênio (com G maiúsculo sim) Road Dahl foi lançado.
Conclusão: já nos cansamos desse metáfora ou melhor, já nos acostumamos com ela e não precisamos dela toda vez que um filme do Wonka é lançado.
O que precisamos é falar de 2 coisas, pelo menos: como o Timothée é bom e me impressiona a cada filme que ele faz e eu logo esqueço, e fico com preguiça dele até o próximo filme e assim vai a vida; e precisamos falar no dinheiro gasto pra construir os cenários mais incríveis dos últimos tempos para um filme escrito e dirigido por um “novato” nas super produções, mesmo sendo um belo de um diretor.
Wonka é mágico e fofo, o filme e o personagem.
Este filme de origem me deixou não só bem impressionado como também esperançoso com o que deve vir por aí.
Se você espera ver um Wonka cínico, sarcástico, cruel, como foram os de Wilder e de Johnny Depp, esqueça e se deixe levar por um verdadeiro sonhador, um menino pobre que aprendeu a fazer chocolate com a mãe (a maravilhosa Sally Hawkins) e que aprimorou tanto suas técnicas e combinações que lhe faltam jogo de cintura, inteligência emocional, saber ler, dentre outros detalhezinhos interessantes.
Wonka chega a Londres com uma mão na frente, outra atrás, 12 moedas que nos primeiros momentos já viram quase nenhuma e logo de cara é recebido por um menino engraxate que eu não posso deixar de afirmar que sim, é o Charlie. Ou uma bela homenagem ao Charlie que há de vir.
O esquema todo doido do roteiro me deixou bem nervoso por vários momentos porque o que King criou para nos mostrar todos os dons geniais do personagem, apesar de todas as suas “falhas”, é coisa de doido.
Wonka é um filme tão inglês que tem uma quantidade absurda de vilões, com a oscarizada Olivia Colman com uma dentadura amarela horrível como a pior de todas, com um Matt Lucas chocolateiro rico tétrico, o policial mais abilolado possível vivido pelo Keegan-Michael Key e um padre mafioso podre vivido por um tagarela Rowan Atkinson.
MAs tem também um monte de gente bacana que acaba sendo a trupe do Wonka, encabeçada pela maravilhosa Noodle (a estreante Calah Lane) que junto com um time de perdedores/prisioneiros, sofrem bem de perto com Wonka e suas ideias mirabolantes.
Claro que não poderia faltar o icônico Oompa-Loompa, aqui vivido por um Hugh Grant engomadinho, quase um lorde inglês, mas que no fim das contas quer mesmo os chocolates que o jovem chocolateiro produz.
Tudo isso em cenários gigantescos, lindos, coloridos quando precisam ser e bem lúgubres dependendo da ocasião.
Em uma entrevista eu vi o Chalamet dizendo que ele morou em Londres por 7 meses para filmar Wonka e eu digo que a Warner gastou rios de chocolate, ops, de dinheiro para dar vida a essa história toda.
Valeu a pena? É um #alertafilmão?
Sim e quase.
Wonka só não é melhor exatamente pelo personagem e daí eu culpe Thimothée.
O cara é bom, é bonito, tem aquela cara de bobo de bem jovenzinho mas não tem um adjetivo necessário para Willy Wonka: a esperteza, a “sacanagem”, a cambalhota depois de entrar em cena mancando do Gene Wilder.
Acredito que isso comece a aparecer nos próximos filmes da série. Porque sim, isso já virou série mesmo sem os caras anunciarem porque é muito cenário pra pouco filme ainda.
Certeza que as poucos o Wonka fofo vai se transformar no cínico que a gente tanto ama e esse cinismo, que provavelmente virá com os calos da vida, deveria ter começado neste filme, que, por ser um musical, quase virou um filminho infantil de sessão da tarde.
NOTA: