Dias tristes os nossos quando um filme legal como este novo do ótimo Ira Sachs é mais falado pelas cenas de sexo do que por todos os seus outros adjetivos que são vários.
O filme conta a história de um diretor de cinema bem escroto, o que na verdade é um pleonasmo, Tomas (vivido pelo deuso Franz Rogowski) que mora em Paris com seu marido (o outro deuso Ben Whishaw em seu melhor papel) e está terminando seu novo filme, quando conhece Agathe em uma festa.
Eles se beijam, transam e Tomas, sendo o babaca que é, fica entre o marido e a nova namorada, brincando com os sentimentos alheios sem se importar com o que eles vão passar mas sim com o que o “diretorzão” quer, do jeito que ele quer e pronto.
Um triângulo amoro que tem tudo pra dar errado.
Ah, Agathe é vivida por Adèle Exarchopoulos que na minha opinião é a maior atriz de sua geração, uma mulher que vai do 8 ao 80 sem que a gente sofra com caricatices.
Sua Agathe é uma surpresa enorme, uma das grandes de Passagens.
O trio romântico do filme não poderia ter sido melhor representado.
Franz é provavelmente o ator mais importante dos últimos anos, fazendo papéis em filmes pequenos e icônicos e que, depois deste Passagens, espero que comece a fazer filmes maiores para que um público maior descubra a Genialidade, sim, com G maiúsculo.
Eu sempre digo que o Franz é a versão (mais) bizarra do já bizarrinho Joaquin Phoenix.
E o Ben, gente, é o monstro que sempre tá escondidinho em um monte de filmes legais e aqui, como em alguns outros antes, mostra que pode e faz o que ele quiser.
Em Passagens Ben rouba o filme: Franz é um monstro, até assusta e Adèle cria mais uma personagem inesquecível, tudo por uma cena de um papo em um café.
Mas Ben é tudo, briga, come, grita, esbraveja, chora, quase ri e rouba nosso cérebro e nosso coração.
O diretor Ira Sachs infelizmente jogou “fácil” com a quantidade infinda de cenas de sexo, foi pra platéia, fez certinho porque Passagens passou no cinema, foi sucesso e agora no Mubi com certeza vai bombar.
Mas como eu disse, esse filme vai ser reconhecido pelo sexo e as sutilezas da escrotidão do diretor vão passar meio que desapercebidas, como vai também passar a cena do café da Adèle.
E isso também aconteceu em outro filme do Mubi, Rotting In The Sun, que tem uma das melhores personagens do ano, a empregada, mas todo mundo só fala do sexo e das drogas.
Pelo menos o povo tá vendo filmes bons, pelas razões erradas, mas bora lá.
NOTA: