João Carlos Massarolo, coordenador e criador do Mestrado Profissional em Produção de Conteúdo Multiplataforma (PPGCOM/UFSCar), fala sobre Inteligência Artificial no Audiovisual para matéria para O Globo. Confira.
IA no audiovisual: sem regulação, mas já diante dos olhos
Inteligência artificial já está presente no dia a dia do consumidor de plataformas de streaming
Por Lucas Salgado — Rio de Janeiro
Publicação: 27/08/2023, às 03h30. Atualizado: 27/08/2023
Matéria Original
Mesmo que você não repare, a inteligência artificial está nas telas.
Na da TV, a propaganda de uma marca de automóveis estrelada por Maria Rita e a mãe, Elis Regina, emocionou fãs e gerou debates sobre a ética por trás do uso da imagem de uma artista que já morreu numa ação comercial.
Já em Hollywood, a IA é protagonista dos debates envolvendo as greves dos sindicatos de atores e roteiristas. Entre várias demandas, os profissionais temem o uso da tecnologia para tornar seus trabalhos precarizados. Os roteiristas questionam o uso de IA para criação ou desenvolvimento de textos para obras audiovisuais. Já os atores criticam a falta de regulamentação sobre o uso futuro de suas imagens e a tentativa dos estúdios em criar um banco de dados de imagens de figurantes.
João Massarolo, coordenador do mestrado em Produção de Conteúdo Multiplataforma da UFSCar, lembra que a IA já está presente no dia a dia do consumidor de plataformas de streaming. O onipresente algoritmo nada mais é do que fruto da inteligência artificial, neste caso usada para aprimorar a experiência do assinante, que recebe uma programação adaptada a seus interesses na estratégia de mantê-lo engajado.
Curadoria algorítmica
— Há uma revolução acontecendo inclusive na TV aberta, onde você tem uma curadoria algorítmica acontecendo durante a programação — conta Massarolo. — Hoje, a tecnologia colhe tantos dados que é possível mudar o desenrolar de um programa quase em tempo real.
Esvaziar pós-produção
No contexto da greve dos roteiristas nos EUA, o pesquisador lembra que a IA não é criativa e defende que a ferramenta possa ser usada para auxiliar o roteirista e jamais para substituí-lo. Em outros casos, reconhece que alguns profissionais especializados, como finalizadores, ilustradores e designers, podem acabar, sim, substituídos por um técnico ou engenheiro em inteligência artificial. Lançado recentemente, “Indiana Jones e o chamado do destino” usou a IA para rejuvenescer o visual de Harrison Ford, com a ajuda de duas câmeras infravermelhas e um banco de dados de imagens de arquivo do ator, com as quais foi possível criar uma “máscara” para substituir seu rosto.
Para Massarolo, a inteligência artificial tende a diminuir a fase de pós-produção das obras audiovisuais, uma vez que muitos acertos e correções, que eram feitos na pós anteriormente, hoje podem ser realizados ainda nas filmagens. Neste sentido, ele acredita que a tecnologia colabora para uma produção que envolve menos profissionais e diárias de trabalho.
No momento, ferramentas de IA já são usadas no campo do audiovisual em diversas funções, como na detecção de créditos em conteúdos publicados na rede, na legendagem de produções, na distribuição de vídeos e até mesmo no combate à pirataria.
Roteiristas a salvo
Pesquisador em comunicação e inteligência artificial, Vinícius Laureto estudou a aplicação de textos gerados por IA e concorda com a análise de que a produção textual ainda é muito simplória para preocupar roteiristas.
— Acredito na IA como recurso auxiliar. Temos modelos incríveis para geração de dados. Mas, para criar do zero, ainda é algo muito complicado — destaca. — Vejo a inteligência artificial mais presente durante a produção e a pós-produção, com softwares de montagem, colorização etc. Você pode corrigir enquadramentos, apagar tremores e remover coisas da cena de forma mais fácil.
Os pesquisadores lembram que tudo ainda é muito novo no debate sobre IA no audiovisual e que a própria aplicação ainda deverá ser objeto de estudos e análises complexas.