Eu ia falar de Past Lives, ou Vidas Passadas, só quando o filme estreasse por aqui mas alguém bem “jênio” resolveu lançá-lo só no meio de fevereiro do ano que vem, perto do Oscar.
Como eu não aguento guardar notícia boa, aqui vai: Past Lives é o filme do ano, com a melhor atuação de uma atriz de 2023 por uma maravilhosa Greta Lee e com a “melhor e mais triste cena de (não) amor do século, em frente a uma porta azul de garagem”.
Eu estava super animado para assistir Past Lives porque o filme vem sido venerado desde que estreou alguns meses atrás nos EUA mas eu juro que não estava preparado para o que eu assisti.
O filme é escrito e dirigido por Celina Song, uma dramaturga em sua estreia no cinema e parece que essa mulher vem escrevendo dramas e comédias românticas há décadas.
E dirigindo elenco há tanto tempo quanto, porque o que a gente assiste aqui não é coisa de diretora de primeira viagem.
O filme conta a história de Nora e Hae Sung, amigos adolescentes que se separam quando a família de Nora resolve imigrar para o Canadá, 24 anos atrás a partir dos dias de hoje.
Nora e Hae Sung eram extremamente unidos, ela a menina que se emocionava o tempo todo e ele o menino que não saía de seu lado. Se um pouco mais velhos fossem, seriam namorados e super apaixonados. Mas no início de adolescência, 2 décadas e meia atrás, na Coréia, eles eram só amigos mesmo, mas amigos com um “quê a mais”, como a diretora Song deixa claro o filme inteiro.
12 anos depois da separação, Nora, já morando nos EUA e estudando para ser escritora, decide procurar Hae Sung na internet até que… o acha.
Eles se reconectam imediatamente, vivendo em lados opostos do planeta mas usando o Skype como ferramenta de aplacar a saudade e o tal “quê a mais” que eles possuem.
Mas chega uma hora que a impossibilidade de um visitar o outro faz com que eles tomem a decisão de não mais se falarem, por mais dolorosa que seja.
Nora conhece Arthur em um encontro de escritores, eles se apaixonam, se casam e depois de mais 12 anos, quem reaparece?
Sim, Hae Sung acha Nora e diz que vai passar uma pequenas férias em Nova York e pergunta se eles podem se encontrar.
24 anos depois daquela adolescência linda em Seoul, Nora e Hae Sung passam poucos dias juntos conversando, tentando colocar as vidas em dia e provando que o “quê a mais” coreano é uma realidade mas não uma exclusividade.
Past Lives e suas vidas passadas, é a forma da diretora Song nos mostrar como o amor pode existir de muitas formas e muitas possibilidades, mesmo sendo patente e quase físico a ponto de se poder cortar com uma faquinha de pão pullman.
O filme é um belo drama de desencontros e de amor da vida toda.
Mas também é uma comédia romântica, mais romântica que comédia, com o final mais inesperado de todos. Para uma comédia romântica.
A construção da história de Nora, mais até do que a de Hae Sung, é tão autêntica e verdadeira que se alguém me contasse que o filme é parte documentário eu acreditaria.
No meu universo cinemático, Nora é real. Assim como a Inez de Teyana Taylor em A Thousand and One é real e eu não vou aceitar nada menos do que Teyana e Greta Lee indicadas a todos os prêmios de atuação possíveis.
A pseudo leveza com que Past Lives é conduzida, dando ao filme essa energia de comédia romântica, é o grande acerto da diretora Celina Song para poder conduzir o espectador por uma história nada óbvia em sua função.
E escrevi ali da pseudo leveza porque Past Lives tem um dos melhores roteiros não só pela forma e pelo conteúdo, mas como peça de estudo de personagem e principalmente de reação de personagem porque nada em Past Lives é óbvio ou fácil ou esperado.
Nada.
E é disso que a gente precisa cada vez mais nos dias de hoje, obras que abram nossas cabeças, que oxigenem não só nossos cérebros mas também uma indústria tão decadente como a do cinema de Hollywood.
NOTA: