Eu juro que achava que Sisu seria meu filme preferido de 2023, até que assisti A Thousand And One.
Depois de dias, eu ainda estou absolutamente apaixonado pela desgraça que é Inez, a personagem mais odiável do ano, vivida pela maravilhosa Teyana Taylor, que se não for indicada pra tudo quanto é prêmio por este filme, pode fechar Hollywood de vez.
A fisicalidade da Teyana Taylor é de outro mundo. O que ela faz para dar vida à mulher que resolve sequestrar seu próprio filho logo que sai da cadeia, achando que ela vai dar uma vida melhor ao menino do que a que ele teriam em lares adotivos, como ela mesmo viveu em sua infância, o que Teyana faz e nos entrega e cria, gente, fazia tempo que não via nada parecido.
E olha que todo ano os papéis femininos nos EUA são mais interessantes que os masculinos.
Mas Inez chegou pra ficar no filme de estreia da diretora A.V. Rockwell que parece que filmou esse petardo lá por 1975 e deixou guardado por décadas para lançar em uma época onde uma personagem como Inez é facilmente odiada, cancelada e tudo mais.
Inez faz o que pode e o que não pode para dar o mínimo de condições para que seu filho cresça longe do desespero que ela teve quando cresceu. E isso inclui comprar documentos falsos para a criança, para que não achem ele com ela.
O tempo vai passando a mãe durona e exigente e mais durona ainda foi me fazendo ficar babando pela mulher fria e calculista, em uma criação de personagem que cada gesto, cada tragada no cigarro, cada abraço no filho, transmitisse uma sensação de desconfiança, algo que não sinto muito em dramas.
Inez parece que tem sempre um pé atrás e outro lá na frente, preparada pra tudo o que possa acontecer ao mesmo tempo que duvida de tudo que esteja acontecendo no tempo real.
A “desgraceira” toda de A Thousand and One vai nos encharcando ao poucos, como um vazamento de água que só olha a sola do seu sapato no banheiro, você não liga tanto e quando se dá conta é tarde demais e a água já cobriu seu nariz.
A “força” de Inez, seu poder, sua audácia aos poucos cobrem nossos narizes ao ponto de não sabermos se queremos fazer uma forcinha para darmos um último respiro ou se sucumbimos a água invadindo nosso pulmão de vez e já era.
NOTA: