Amo o diretor francês François Ozon por vários motivos e sem pensar muito, o maior deles é porque o cara faz um filme atrás do outro, sem canseira, sem enrolação.
Se alguém me perguntar qual é o estilo de Ozon eu direi que pra mim ele não tem estilo, tem pressa.
E o mais incrível é que mesmo com essa padaria fílmica, a qualidade de seus filmes nunca cai.
Seus filmes são pelo menos lindos, bem escritos e bem filmados.
Mas não necessariamente são todos ótimos filmes, como este mais recente, a comédia O Crime É Meu.
O filme não é ruim, mas é muito teatral demais, apesar de todas as locações lindas, externas ótimas e até mesmo cenários em pós produção muito bem feitos.
O filme talvez seja o mais feminista do autor francês, onde lá nos anos 1930, a jovem atriz desempregada, desesperada por trabalho Madeleine Verdier (a ótima Nadia Tereszkiewicz) é a última pessoa a ser vista saindo da casa de um produtor abusivo onde logo depois ele é encontrado morto.
Madeleine mora com sua melhor amiga Pauline Mauléon (Rebecca Marder), também jovem, também sem dinheiro mas advogada.
Madeleine logo é acusada do crime, e sob as batutas de Pauline, ela assume o crime, mesmo sem tê-lo cometido, faz um discurso incisivo na corte sobre como a mulher jovem sofre nas mãos dos homens canalhas, não é condenada e vira meio que uma popstar.
Lembre-se que isso é na década de 1930.
Primeiro as amigas vivem com os pés atrás, já que elas mentiram muito mas à medida que suas vidas vão melhorando muito, elas relaxam.
Sua tranquilidade vai bem até que entra em cena Odette Chaumette, uma atriz envelhecida no ostracismo, querendo tomar a dianteira da história.
Odette é vivida por uma Isabelle Huppert maravilhosa, exagerada, com cabelos vermelhos imensos, falando mais rápido que todo mundo no filme e sumindo debaixo de seu figurino lindo e extravagante. E tem ainda meu preferido Fabrice Luchini irreconhecível!
O Crime É Meu não é o primeiro filme de Ozon que mais parece uma peça de teatro filmada, o que acaba quase que sendo uma segunda marca registrada do diretor, já que a primeira marca, na minha opinião, são seus filmes gays muito bem escritos.
Esses filmes mais teatrais não são piores ou melhores, mas pra mim eles acabam tendo uma cara de preguiça de decupagem, onde é mais “fácil” deixar a câmera ligada e não precisar cortar para a ação acontecer na nossa cara.
Como se fosse uma cena de teatro mesmo, a gente sentado na platéia vê ali e a cena se resolve por si só.
Eu senti falta dos movimentos de câmera, dos cortes, dos closes e dos planos gerais em várias sequências, o que poderia ter dado mais ritmo ao filme.
Mas Ozon quis que seu filme tivesse o ritmo que tem e a gente aceita, se diverte, baba na Huppert e espera que o próximo seja mais… cinema.
NOTA: 1/2