Desde o ano passado venho lido muito bem a respeito deste filme e essa semana fiquei muito impressionado como nada do que tinha lido a respeito lhe fez justiça.
Regresso a Seul é uma pérola francesa como há muito eu não via nada parecido.
O filme é um drama que eu costumava assistir lá pelos anos 1980 quando na ingenuidade da minha juventude eu achei que aquele era o futuro do cinema.
Aos 25 anos de idade, Freddie , uma coreana adotada por uma família francesa ao nascer, resolve procurar suas origens e vai para seu país natal pela primeira vez na vida.
Animada com a possibilidade de encontrar seus pais biológicos, Freddie resolve passar esses dias de espera se divertindo como pode.
A mulher cosmopolita crescida am Paris acaba causando uma certa estranheza às pessoas da sua idade com quem ela convive esses dias ansiosos.
Freddie não fala coreano, não sabe de onde veio mas todo mundo diz que ela tem cara de coreana antiga, o que a deixa mais intrigada e mais ansiosa para ver onde sua história pode dar.
Até que dá em seu pai, um homem que vive em uma cidade pequena do interior com sua nova esposa e filhas, com quem Freddie aos poucos vai percebendo que não tem absolutamente nada em comum.
Mas ela tenta, ela quer pertencer, ela quer ser coreana, quer entender o que falam com ela e o que sentem ao seu redor.
Isso enquanto não para de procurar sua mãe, que ao que parece não quer saber de reencontrar a filha.
Acontece que a história da francesa (coreana?) é mais confusa do que ela poderia supor.
Ela quer mas não quer, ela tem esperança mas não faz tanta questão, ela em resumo lida com a situação meio como lida com sua vida, com a leveza e a displicência dos jovens adultos.
Parece que Freddie procura uma forma de crescer ao mesmo tempo que procura uma volta ao útero, às raizes.
Regresso A Seul é igual sua personagem Freddie, um filme que se propõe profundo mas que na verdade nos entrega essa história de mão beijada, mastigadinha, bem azeitadinha, diferente do que poderia ser se o diretor Davy Chou se mostrasse pretensioso e resolvesse fazer um filme cabeça, cheio de elocubrações não só de conteúdo mas também na forma.
O filme é extremamente bem filmado, bem dirigido, bem escrito.
Nada no filme é dispensável. Não há sequer uma cena que não seja necessária para que a história seja bem contada, o que nos dias de hoje é uma raridade com diretor querendo se mostrar mais do que mostrar seu próprio filme, principalmente em casos de filmes que são lançados com “selos de aprovação” de festivalzão, neste caso, Cannes, onde o filme estreou na seleção oficial da Mostra Um Certo Olhar.
Mas não, o franco cambojano Chou soube o que queria contar e como queria contar.
Regresso A Seul é profundo quando parece ser relaxado, é super bem dirigido quando parece ter sido feito às pressas e o melhor de tudo, tem em sua atriz principal Ji-Min Park, uma artista que nos entrega corpo, alma e tudo o que existe no meio da melhor forma possível.
O crescimento de Freddie à medida que o roteiro vai lhe jogando bolas “na fogueira”, o quanto a coreana (francesa?) vai evoluindo, mesmo que sem que ela perceba ou sem que nós espectadores percebamos antes que seja tarde demais, é coisa de mestre.
Regresso A Seul não só é obrigatório como deve ser visto com toda a pompa, circunstância e reverência que um filme maior merece.
Me agradeça depois.
NOTA: