Se você, como eu, teve a sorte de crescer nos anos 1980’s, teve a sorte de ter um John McEnroe como (anti) herói.
O Fabiano adolescente pós punkzinho que amava o Bowie e as bandas inglesas mais junkies e o Boy George, apesar de não gostar de tênis amava o McEnroe, o tenista americano enfant terrible, o cara que gritava, quebrava raquetes, xingava o povo, ia pra MTV dizer que fumava maconha e não tava nem aí pra nada.
Eu não entendia na época como um esportista podia ser assim, já que a aura nos esportes sempre foi ao redor de pessoas totalmente dedicadas à saúde para que seu rendimento fosse o maior possível.
McEnroe nunca foi esse esportista e neste documentário eu finalmente consegui entender um pouco mais daquele cara que fez minha cabeça pifar um pouco enquanto eu crescia.
Ver a história na tela contada pelo próprio, obviamente sem firulas como tudo em sua vida, faz deste documentário uma das melhores coisas do ano, absolutamente necessário se você gosta de cinema e de personagens únicos.
McEnroe vai do 0 ao 1000 e por lá fica. Até hoje.
É uma das unanimidades de todos os tempos. Não há quem não o admire.
Você pode achar ele histérico, destemperado, mal educado e ele é tudo isso mesmo.
Eu já acho ele corajoso. Ele é o cara que peitou os padrões, ao mesmo tempo que lutava por alguns deles.
Ver a Chrissie Hynde falar que ele sempre a procurava em Londres porque ela sempre tinha maconha, ver ele explicar seu casamento com outra diva infantil, Tatum O’Neal, a mais jovem vencedora do Oscar, um dos eventos do século passado, o casal superstar que se acabou nas drogas, nas brigas e mais ainda em drogas, é tudo incrível demais.
Ver McEnroe ainda vivo é a prova de que os excessos, por vezes, são “perdoados”. E eu digo dos físicos, dos psicológicos, dos seus pra você mesmo, porque é inacreditável como um cara desses tenha sobrevivido a tanta tensão e desespero como foi durante grande parte de sua vida.
Toda minha admiração vai para o tenista que nos desnuda sua alma mas também vai para o diretor Barney Douglas que conseguiu filmar e nos mostrar tanto absurdo. E eu explico.
Halftime, o documentário da Jennifer Lopez, é uma das grandes decepções do ano por ser o maior filme chapa branca da história, parecendo mais um clipe de elogios e mais elogios e mais um pouco de elogios à popstar.
McEnroe é o oposto daquilo. E provavelmente custou 1/4 do outro doc.
Quando eu disse que John McEnroe desnuda sua alma, por vezes parece que ele está a frente de sua terapeuta purgando pecados, tentando entender seus atos não só através de memórias particulares mas principalmente por memórias documentadas, já que sua vida como maior campeão de tênis de todos os tempos, e como ele deixa muito claro, foi acompanhada de muito perto por câmeras, microfones e jornalistas e todo mundo que conseguisse chegar ao seu redor.
Isso numa época onde redes sociais não eram nem ideia de ficção científica, imagina hoje.
Não perca por nada. Sério.
NOTA: