Jura Capela, o diretor do documentário Manguebit, nem te conheço mas já te admiro.
O cara fez um dos melhores documentários brasileiros sobre música que eu já assisti.
E o melhor de tudo, sem ser condescendente, sem passar a mão na cabeça de ninguém, curto, seco e grosso.
Manguebit obviamente conta a história do movimento nascido em Recife na década de 1990, o Manguebeat, onde músicos chegaram com os 2 pés nos peitos da música popular brasileira dizendo “olha rpa gente, caramba, aqui na quarta pior cidade do mundo a gente cria e produz arte boa demais”.
Tão boa que nos deu Chico Science, Fred Zero Quatro, a Nação Zumbi, o Otto e escancarou as portas daquele lugar incrível pro velho eixo Rio-São Paulo, o triângulo das bermudas da produção cultural brasileira até então (ainda hoje?).
O mais legal pra mim de ver essa pérola no Festival In-Edit, foi relembrar como eu vivi aqueles dias, quando eu ia aos shows desse povo todo em SP e saía maravilhado finalmente entendendo o que finalmente era o rock, ou a música contemporânea e (pra mim) relevante produzida no Brasil.
Uns 10 anos antes do Manguebeat, lá em 1986, a rainha pós-punk inglesa Siouxsie Sioux veio ao Brasil fazer 2 shows históricos no centro de convenções do Anhembi e lá estava eu, jovenzinho “new wave” que era.
Na primeira noite a Plebe Rude abriu o show e na segunda foi a vez dos Titãs (do Iê Iê Iê), ou o contrário.
Lembro que depois dos shows, alguém entrevistou a Siouxsie e perguntou o que ela tinha achado do rock brasileiro, ao que ela respondeu: “não faço a menor ideia, porque as 2 bandas que tocaram antes de mim fazem rock inglês”.
E essa era a realidade daqui.
Lá na década de 1980, quando o rock brasileiro estourou na pós-ditadura, esse rock não tinha nada de brasileiro, era feito pelo povo que cresceu ouvindo rock inglês mesmo.
Só pelo menos 10 anos depois é que a Nação Zumbi e Os Raimundos apareceram fazendo rock com pegada brasileira.
E Manguebit, o filme, conta lindamente a história de como esse povo do Recife criou essa nova onda e como a música brasileira nunca mais foi a mesma.
NOTA: