Nada me dói mais do que escrever essas próximas palavras: Óculos Escuros, o novo filme do mestre dos mestres, ó Dario Argento, é bem ruinzinho.
Bem ruinzinho nível seu último filme lançado exatos 10 anos atrás, Dracula 3D. Lembra? Não importa.
Ao terminar de assistir essa nova empreitada do rei do giallo, do italiano vivo mais amado pelos fãs do terror universal, pensei comigo que daqui uns 10 anos esse filme vai ser cultuado por uma legião de fãs, mas daí pensei no tal Dracula de 10 anos atrás que caiu no limbo das porcarias de dar medo.
O filme começa bem, com uma sequência ótima em uma noite de eclipse ( e eu vi o filme a noite passada, noite da eclipse total da luz: coincidência?), onde uma prostituta saindo de um hotel de luxo e tendo seu pescoço rasgado no meio de uma folhagem linda perto do hotel por, quem diria, um serial killer.
O problema é que a boa direção termina aí.
O resto do filme, se tivesse sido lançado lá na década de 1970, teria possivelmente acabado com a carreira de Argento.
O filme então nos mostra outra acompanhante de luxo, Diana, que também cai nas mãos do tal serial killer mas que, por sorte, sai viva do ataque, com um pequeno detalhe: ela ficou cega e tem que usar os óculos escuros do título, que acabam servindo também de objeto de “pegadinha/piada” quando ela vai encontrar um cliente e usa os óculos pra transar por ter olhado pro eclipse solar desprotegida.
Entendeu?
Nem precisa, porque a esperteza do roteiro também termina aí.
E o filme acaba sendo um jogo de gato e rato, de perseguição do serial killer atrás de prostituas, ou pelo menos de Diana, que foge com a ajuda de Chin, um menino chinês que ela acaba ajudando por ter matado seus pais no acidente que lhe tirou a visão.
Entendeu?
Calma, que tem mais.
Argento resolveu colocar sua filha Asia no papel da cuidadora da cega, lhe ensinando a sobreviver no mundo e fica óbvio que essa é uma homenagem à sua filha que deve ajudar o pai ícone nos dias de hoje.
Não que o filme seja de todo ruim, tem algumas coisas bem legais que lembram o Argento de outrora como uns super closes sangrentos, um ou outro zoom perdido no meio de sequências mais perdidas ainda.
Volto lá: se o filme tivesse sido feito lá pela década de 70 ou mesmo de 1980, seria detonado.
Hoje ele foi recebido no Festival de Berlim, onde estreou, com muitas, muitas ressalvas. E com muita condescendência, já que é o novo filme do italiano maior de todos do terror.
E como disse outro dia numa discussão sobre outro filme de horror bem porcaria, a gente tem que saber de onde o filme veio, como foi feito, mas não dá pra passar a mão na cabeça de obra porcaria.
Argento errou feio aqui, infelizmente. E eu só desejaria que ele tivesse dinheiro e condições suficientes para filmar todo ano, sempre, nível Woody Allen, porque eu tenho certeza que tem muito ainda a ser contado por ele, só falta a constância.
Só pra me irritar mais um pouco, o poster original do filme ainda foi copiado na cara de dura de outro clássico do horror, They Live, do John Carpenter.
NOTA: 1/2