Os motivos pelos quais eu odiava os filmes iranianos na década de 1990, quando eles viraram febre, são os mesmos motivos pelos quais eu amo o cinema iraniano hoje em dia.
Pegando a Estrada, o ótimo filme do diretor Panah Panahi, parece um herdeiro direto da filmografia do maior de todos Abbas Kiarostami: é um filme plácido, pleno, onde em princípio nada acontece por quase todo o filme e quando vai se aproximando do final, tudo o que vemos estava sendo telegrafado o tempo inteiro nas sutilezas cinematográficas iranianas.
Uma família caótica é o que melhor define o pai de perna quebrada, o filho pequeno que não para 1 segundo, a mãe que tenta segurar a onda de todo mundo sorrindo com olhos tristes e o irmão mais velho que dirige calado por uma estrada que parece sem fim.
Eles acham que estão sendo seguidos, depois atropelam um ciclista que se mostra mais trambiqueiro do que poderíamos supor, tudo num caminho que para nós espectadores vai do nada ao lugar nenhum, que uma hora parece indo pra frente e por outra, pra trás.
Mas eles não param, procuram seu destino, tudo numa ambiente fechado, como disse caótico dentro de um carro que além de tudo isso, tem ainda o cachorro enfermo da família.
Eles conversam e não dizem nada.
Ou melhor, despistam.
Quando param o carro e finalmente conversam sobre o que deveriam, a câmera que sempre esteve perto de todos eles, na cara, se afasta deixando que as almas se mostrem, os sentimentos aflorem e a gente consiga respirar para receber o que vem.
E quanto mais a câmera se afasta, mais os sentimentos aparecem, mais o choro contido explode, mais os adultos pedem licença, inclusive prendendo o filho pequeno a uma árvore enquanto a mãe se desespera, o pai contempla a uma distância segura o que tanto queríamos saber o que era para acontecer nesta lindeza que é Pegando a Estrada.
Que além de tudo, nos entrega uma das cenas mais lindas de quase final de filme que assisti em 2021, uma viagem espacial digna de colocar Panah Panahi, filho do mestre Jafar, um dos grandes nomes a acompanhar do cinema mundial.
#MostraSP #45Mostra
NOTA: 1/2