Uns dias atrás quando eu escrevi sobre o ótimo Hellbender, disse que depois de muitos e muitos anos eu assistia um filme de bruxas como se deve.
Repito agora sobre o espanhol Todas as Luas.
Que filme!
Quando eu estava desenganado com filmes de vampiros, sentindo falta de uma história totalmente nova e surpreendente, eis que aparece este filme que me faz acreditar que os morcegões estão vivos.
Mortos vivos.
O filme se passa em meados dos anos 1870, ao final da guerra castrista na Espanha, na região do País Basco e pra nossa sorte, o filme é falado em Basco, coisa mais linda de se ouvir.
Todas as Luas conta a história de uma menina que fica completamente desamparada depois que o orfanato de freiras onde ela vivia é destruído por bombas, no meio daquela guerra.
Ao fugir por uma floresta, ela encontra uma mulher que a salva e que promete que nunca mais vai deixá-la sozinha, se a menina quiser, claro.
Uma tigela de sangue que a menina toma é o suficiente para a promessa ser realizada. Mas logo depois, a mulher, a menina e o resto de um grupo de pessoas que vivem escondidas no meio do mato, são atacados pelos mesmos soldados do orfanato e mais uma vez, a menina sobrevive.
Sozinha.
Sem ter ideia do que aconteceu com ela.
Ou pior, sem ter ideia de que alguma coisa aconteceu com ela.
E ela descobre sofrendo, quando coloca a mão no sol e sente sua pele queimando imediatamente.
A menina, vivida pela ótima e linda Haizea Carneros, é uma vampira sem saber que é.
Nem nome ela tem, por isso me refiro a ela como a menina, como no filme.
Ela sente fome, mas demora para perceber que de sangue.
Ela não sai ao sol depois de queimar a mão, aprendendo da pior forma possível e da pior forma também vai descobrindo como ela pode sobreviver.
A direção de Igor Legarreta é impressionante, muito por não cair nas armadilhas do horror fácil ou pior, do horror de vampiro fácil.
A menina de Todas as Luas, já que é só o que ela pode contar e olhar no céu sem se queimar, já entrou para o meu panteão de vampiras maravilhosas ao lado de Eli de Deixa Ela Entrar.
Quando eu falo em não cair em armadilhas, o que mais me impressionou neste filme foi que como a menina não sabe o que ela é, ela não sabe o que tem que fazer e como deve se portar, como deve ser.
Ela acha que é só uma criança meio diferente, que não deve se misturar com as pessoas. Até que ela descobre que também está errada.
E esse é o tipo de situação que poderia também cair na armadilha da reviravolta de roteiro, do plot twist tão odiado, mas que pelas mãos poderosas de Legarreta, transforma o filme em uma bela caixinha de surpresas, uma atrás da outra, sem decepcionar.
Todas as Luas é o horror que não parece, que assusta mas não soa como horror, que mete medo mas que parece mais um drama desgraçado, só que delicado ao mesmo tempo.
É um conto fantástico e horroroso, de medo, de abandono e desespero. E o que é pior de tudo, já que a menina não sabe quem é nem o que é, ela só sabe que não consegue morrer e que do jeito que as coisas andam, essa não seria uma opção tão ruim.
A condução clássica do diretor junto a fotografia, a trilha e principalmente a direção de arte, são fundamentais para que a história seja crível e melhor ainda, seja até possível.
Nunca vi um filme de vampira que eu acreditasse que “desse jeito até poderia ter acontecido”.
E isso não é bom, na vida real, já que abre uma possibilidade de uma vontade bizarra que no final das contas, acaba quando termina o filme.
E mais não posso contar.
NOTA: 1/2