Saint-Narcisse é o novo (e melhor) filme do diretor canadense Bruce LaBruce, em cartaz no Festival Mix Brasil, online e de graça.
Sempre que falo de um filme novo de LaBruce fala dele como iconoclasta, fetichista e mais outros adjetivos bem gays.
Em seu novo filme ele só confirma, mais uma vez, claro, tudo o que sempre digo sobre seu cinema.
Só que desta vez, LaBruce atingiu o seu ápice como diretor com um estilo cinematográfico só seu.
Saint-Narcisse conta a história de um cara que te um fetiche bem particular: com ele mesmo.
Na verdade, esse auto-fetiche, ou esse amor próprio exacerbado é uma característica tipicamente gay.
Não exclusivamente, mas tipicamente. É só prestar atenção nos casais gays e enxergar como, geralmente, os caras procuram os seus duplos para se relacionarem, para beijarem, como Narciso mesmo, que se empolga com o espelho e…
No filme, esse narciso um dia descobre que a mãe que sempre achou que estava morta na verdade está viva e vai atrás dela.
Ao encontrá-la descobre umas coisas bem interessantes: sua mãe tem fama de bruxa; ela mora/namora/é casada com uma mulher mais jovem que não envelhece; no mosteiro ao lado da casa da mãe ele se apaixona de longe por um noviço que é a sua cara.
Óbvio.
Para contar essa historinha bem fofa, LaBruce não só a fez se passar em 1972 como filma como se ele próprio estivesse em 1972, com todos os chicotes de zoom a que tem direito.
E não só isso, a leveza do filme se encontra em uma ingenuidade cinematográfica de 50 anos atrás, num caminho que estava sendo desbravado pelos italianos como Antonioni e Pasolini que tiraram um pouco da vergonha do que se era mostrado pelas câmeras até então.
LaBruce abusa de ícones religiosos, em especial seu preferido São Sebastião, para contar não só de amor e perversão, mas principalmente de submissão e obediência (pelos monges e noviços), não só religiosas mas sexuais.
O herói de Saint-Narcisse não é o cara lindo e seu duplo/gêmeo, nem sua mãe bruxa, nem o monge “tarado”, nem a namorada/filha/irmã imortal, mas sim o próprio Bruce LaBruce que se mostra melhor que nunca, com uma precisão de roteiro e direção, elevando seu cinema a níveis que eu, juro, não imaginava.
Pra ver o filme é só clicar aqui.
NOTA: