Ontem revi Cabeça de Nêgo no Festival Olhar de Cinema, depois de ter assistido uns meses atrás na Mostra Tiradentes.
Quando vi pela primeira vez, fiquei chocado com a “manha” que o diretor Déo Cardoso teve pra fazer esse filme.
Cabeça de Nêgo conta a história de Saulo, um aluno de escola pública que é chamado de “macaco” por um colega dentro de sala de aula e que mesmo assim é punido pela direção.
Mas Saulo é o tipo de cara forte e sensível, gosta de poesia e está totalmente vidrado nos Panteras Negras, por causa de um livro que uma professora emprestou pra ele.
Quando Saulo percebe que vai receber uma punição radical, Saulo resolve não sair da escola, se trancando na sala de aula para desespero dos professores e da direção da escola.
O que Saulo faz, além de mostrar as condições menos que precárias da sua escola, numa metonímia linda ao sistema de ensino de um país largado às traças, é colocar sob o holofote o quanto a direção da escola está mais preocupada com a repercussão das atitudes de Saulo do que com o que realmente acontece lá dentro.
Seus colegas se juntam a Saulo e a ocupação à escola fica muito maior do que todos esperavam encaminhando para um final que a gente já conhece mas que mesmo assim, pela segunda vez me fez chorar de raiva.
Essa é a manha de Déo, de conseguir transformar seu filme em uma bandeira, mostrando que o jovem preto e pobre não tem vez mesmo. Ainda.
E pra sempre?
Cabeça de Nêgo é aquele filme que um tempo atrás tinha certeza que não entraria em cartaz ou passaria numa sessão das 21h em um canal aberto de televisão, mas hoje eu percebo que filmes como esse, como Sócrates, não são mais só filmes para cinema de arte ou para serem ovacionados em festivais.
Cabeça de Nêgo é o cinema brasileiro em seu apogeu, é filme lindo nível Pacarrete, é cinema de porrada na cara pra nos lembrar que a gente não pode dormir no ponto e nem esquecer que uns anos atrás, a molecada ocupou as escolas pelo país inteiro, que a luta continua e que tomara que ela venha cada vez mais através de filmes como esse.
NOTA: