Estava esperando uma hora certa para falar dessa obra prima italiana, Favolacce (ou Conto de Fadas em português).
A grande coisa desse filme é seu roteiro, um primor, que não por menos foi escolhido o melhor do último Festival de Berlim, levando o Urso de Prata.
Favolacce conta historinhas de crianças e suas famílias, que estão conectadas ou via escola, ou por serem vizinhos, que vivem em uma região bem familiar dos subúrbios de Roma.
Só que aos poucos a gente vai percebendo que esse dia a dia normalzão, sem graça, na verdade é cheio de toques bem intensos e “nervosos”, que chegam quase a um horror da vida real, de tão tensas que algumas situações banais se mostram quando observadas com um tipo de lupa, com uma lente de aproximação só possível graças ao cinema.
Um amigo me indicou Favolacce dizendo que poderia ser um filme do mestre Haneke e ele não estava errado.
Esse tipo de filme onde nada parece acontecer e de repente a gente leva umas chacoalhadas é típico do mestre austríaco, que faz isso como poucos.
Mas os irmãos D’Innocenzo, roteiristas e diretores do filme fizeram a lição de casa direitinho.
Os moleques do filme, sem perceberem, sem saberem nos levam a um caminhos que, como eu disse, parecem normais e insignificantes mas que logo se revelam esses pseudo contos de fadas estranhinhos.
Claro que tudo com a ajuda de seus pais problemáticos, dos adultos que os rodeiam, da vizinha adolescente grávida, do namorado idiota e por aí vão.
Falei da hora certa para postar esse filme porque ele pode ser considerado o extremo oposto do filme de ontem, O Diabo de Cada Dia.
Ambos os filmes tem uma coisa ótima em comum, a grande quantidade de personagens principais, o herói coletivo, como falava o Altman.
Nesses filmes a gente vai aos poucos descobrindo as ligações entre os personagens, a importância de cada ação de todos eles e principalmente de como um influencia o outro sem perceber.
Como disse ontem, o problema do filme americano é o roteiro.
O Diabo tem uma história ótima mas um roteiro bem fraco bem mal escrito, quase afundando o filme.
O roteiro de Favolacce é o exemplo perfeito de como uma história bem escrita, bem pensada e bem contada faz tanta diferença em meio a tanta coisa medíocre, que fica na média mesmo, produzida hoje em dia.
NOTA: 1/2