Acredite em mim: fique em pé e aplauda a Amazon por ter lançado A Vastidão da Noite, que se bobear é a melhor ficção científica de 2020.
Até agora, pelo menos, mas olha, tô apostando.
A Vastidão da Noite é aquele filme com uma ideia maravilhosa e provavelmente com uma meia dúzia de dólares pra produzir. O filme deve ter custado menos que o uniforme do Homem de Ferro nos Vingadores.
Esse filme é a prova que as ideias são muito mais importantes e necessárias que os milhões de dinheiros no fazer do cinema.
Andrew Patterson é o nome do diretor estreante e co roteirista do filme. E já é um dos nomes encabeçando a lista dos meus ídolos recentes (do ladinho da diretora de Dente de Leite, Shannon Murphy ).
A Vastidão da Noite se passa na década de 1950, numa cidadezinha minúscula no meio do nada americano, como diz um personagem do filme, o lugar perfeito para visitantes que não querem ser notados.
O filme tem o melhor casal do ano, um dj da rádio local que se acha e uma garota de 16 anos, a sabe tudo e conhece todo mundo da cidade, que estuda e trabalha como telefonista.
Com a cidade toda na quadra assistindo o jogo de basquete do time local, Fay, a telefonista, no meio de uma ligação, ouve um barulho muito estranho que logo depois ela ouve de novo, só que na transmissão do programa ao vivo de Everett.
Ela liga pra ele e logo eles tentam descobrir de onde veio o ruído.
E com a tecnologia disponível, lembre-se que é nos anos 1950, um telefone e uma transmissão de rádio, eles conseguem aos poucos descobrir que algo muito estranho está para acontecer.
Ao mesmo tempo que também descobrem que alguma coisa foi vista sobre o céu da cidade. A noite. Cheio de luzes.
A Vastidão da Noite é tão bom, tão bem escrito e tão bem dirigido que por vezes eu achava que seria impossível que o filme terminaria bem, porque seria perfeito demais.
Os diálogos do filme parecem saídos de um episódio especial de Gilmore Girls, de tão rápidos e eficientes e cheios de um humor totalmente peculiar. Preste atenção na história do esquilo que rói um fio elétrico, é demais.
A direção de Patterson é das coisas mais inovadoras do ano: ele sabe o que faz, como faz e porque faz. A câmera ajuda a contar a história e o melhor, ele ama os longos planos sequência que são muito mais bem “escondidos” que os cortes de 1917, com drones atravessando a cidade, sobrevoando o jogo de basquete e saindo de novo do ginásio para… sem spoilers.
A química do casal central, apesar deles não serem necessariamente um casal, mesmo com todo mundo torcendo para que sejam, é de soltar faíscas.
Eu ia dizer “mas o melhor…” e não dá porque são tantos melhores.
Além de planos sequências mirabolantes, o filme tem planos sequências em áudio de deixar todo mundo abismado, não só como uma homenagem ao rádio, mas até como uma menção velada aos podcasts tão em voga.
Aliás, as menções ao futuro do filme são outra coisa que eu não acreditei. Fay, a telefonista, gosta de tecnologia e devora revistas de eletrônica e afins. Lá ela descobre, e conta para Everett, que um dia, “provavelmente em 1974”, vão inventar um aparelho que dê direção de trânsito para quem estiver dirigindo o carro, e a voz sairá pelo rádio.
E também diz que no futuro, lá pelos anos 1990, vão inventar um aparelho para todas as pessoas usarem com uma tela pequena onde você possa ver com quem você vai falar e a pessoa vai saber exatamente onde você vai estar.
E por aí vai.
A ingenuidade antiga, já de 70 anos atrás, está estampada no filme, é muito lindo.
Patterson não só fez uma homenagem ao que não mais existe mas também acabou criando um futuro que… nunca existiu.
É aquela história de previsão de futuro dos anos 50 e 60, como eles imaginavam que seriam os anos 2000, tipo Jetsons.
É dessa fantasia, dessa nostalgia que eu sinto falta hoje em dia.
E tudo isso só aconteceu, tenho certeza, pela falta de dinheiro para se fazer esse filme.
Imagina só fazer um filme de ficção científica com uma história tão complexa como essa sem nenhum efeito especial mirabolante.
A Vastidão da Noite parece um episódio do Além da Imaginação original feito por um diretor futurista genial.
Só que é exatamente o contrário, é um filme de ficção científica feito por um diretor genial que presta homenagem a esse futuro que nunca foi.
Filme do ano.
NOTA: