Martin Eden é um cara bem toscão, marinheiro, periférico mas bem curioso.
Um dia ele conhece a ricaça Elena, se apaixona na hora e faz uma promessa: ele vai estudar, ficar rico e casar com ela, com a permissão de seus pais.
E lá se vai Martin, com ajuda de Elena começa muito bem lendo As Flores do Mal de Baudelaire e aos poucos vai lendo tudo o que aparece em sua frente e o melhor, começa a escrever poesia.
Só que sua poesia é totalmente baseada em sua vida, de proletário, de pobre, de um cara que sofreu muito, que faz o que pode e o que não pode para sobreviver.
Suas histórias não são rebuscadas, não são adornadas e os editores estranham, não entendem e não as publicam.
Mas Martin vai se tornando conhecido no “underground”, no meio político radical socialista, numa Itália fascista prestes a entrar na 2a Guerra Mundial.
O radicalismo cresce, Martin é publicado pela primeira vez e seus escritos começam a ter voz.
Só que no país polarizado, a população canhestra de direita o ignora e o rechaça; e não só os ricos, a família de Elena, mas principalmente os pobres ignorantes politicamente.
Martin não desiste, não para de escrever, não para de militar e vai virando um símbolo contra a ignorância e a subserviência.
A voz de Martin é a voz do povo que clama por olhos abertos, clama contra o patronato, contra a corrupção.
Se você achou a história parecida com o que estamos vivendo hoje em dia, Martin Eden, o filme italiano, é baseado em um livro de Jack London, contando a história de sempre do herói não reconhecido, do Don Quixote do tempo todo.
O filme de Pietro Marcello é bem estranho: tem cara de filme italiano dos anos 60, um cheiro incrível neo-realista na direção e principalmente na direção musical, beirando o cafona-antigo e mostrando que o diretor é dons bons.
Mas esse é o segredo dessa pequena pérola, fazer com que um belo elenco seja lindamente dirigido por um cara que sabe o que está fazendo, sabe a história que está contando, conhece bem a época, o visual, os trejeitos, os sons e se bobear os cheiros da Itália fascista em seu auge.
Luca Marinelli constrói um Martin Eden tão crível, tão real, que eu pensei que ele tivesse existido e o filme fosse uma biopic. Mas não, o cara é bom mesmo, tão bom que venceu o prêmio de Melhor Ator no Festival de Veneza de 2019.
NOTA: