O francês Sibyl foi um dos queridinhos do Festival de Cannes desse ano e um dos que eu mais queria assistir na Mostra de SP.
Em Cannes o filme foi muito elogiado por sua eloquência, pelas diversas camadas da personagem título e principalmente por seu elenco, que realmente é ótimo com Virginie Efira, Adèle Exarchopoulos, Gaspard Ulliel, Paul Hamy.
Vou traduzir.
A eloquência do filme é o cúmulo de texto e diálogo e quase de vômitos falantes de todas as personagens.
O que é uma característica do cinema francês aqui virou quase um fardo.
As diversas camadas da personagem principal, uma escritora que larga a carreira para virar psiquiatra e larga a segunda carreira para voltar a ser escritora, deixa de beber porque a mãe alcoólatra morre num acidente de carro, sofre com a irmã escrota e por fim rouba a vida de uma paciente, atriz famosa, para escrever seu livro daria um folhetim de Nelson Rodrigues mas não chega aos pés da genialidade do carioca.
Por vezes o filme quase cai para o surreal de tão intrincado, para não dizer confuso, que se torna o roteiro, mostrando várias Sibyl’s, de ontem, hoje, antes de ontem e amanhã ao mesmo tempo.
Apesar de tudo isso, eu criei um mecanismo com o filme que acabou funcionando: para quem é da minha idade vai lembrar de um famoso livro dos anos 1970 de mesmo nome, que contava a história de uma mulher esquizofrênica com 16 personalidades diferentes comprovadas.
Enquanto via a Sibyl do filme ficava pensando que ela seria uma homenagem àquela do livro, que suas mudanças de características durante sua vida seriam quase que novas personalidades. E já que ela era psiquiatra, a esquizofrenia não ficaria tão fora de contexto assim.
O grande problema de Sibyl é a edição do filme, que vai se perdendo aos poucos com tanto vai e volta.
E seu grande trunfo é sim seu elenco de atores jovens, muito bons, levados a extremos de interpretação, já que no filme ninguém é sossegado, todo mundo grita. E grita muito.
Aliás, todo mundo não. Para minha surpresa, o marido da Sibyl nos dias atuais é o cara mais calmo do mundo, que segura todas as ondas sempre centrado até demais.
Já em outra de suas “vidas”, quando falei que ela rouba a atriz, o filme parece um novelão, onde a atriz tem um caso com o ator seu par em um filme que fazem juntos, só que ele é casado com a diretora e ela, a atriz, engravida durante as filmagens, que não podem parar por contrato e ela também por contrato exige que sua psiquiatra fique ao seu lado já que não consegue falar com mais ninguém no set.
E Sibyl acaba sendo a salva vidas do filme, participando de umas cenas e dirigindo outra na cena mais absurda do filme.
A complexidade do filme e a capacidade criativa da diretora Justine Triet (de Na Cama Com Vitória) não deixam o filme cair num ridículo esperado e fazem de Sibyl um filme mais surpreendente por não afundar totalmente do que um ótimo filme de personagem que seria sua proposta inicial.
NOTA: 1/2