Monos é daqueles filmes que viram queridinhos de grandes festivais por onde passa mas que saem sempre de mãos abanando, sem prêmio nenhum apesar de todos os muitos elogios.
Eu sempre fico com o pé atrás em relação a esses filmes achando que o hype se deve muito mais a algum tipo de marketing do que das próprias qualidades fílmicas em si, como por exemplo o filme Climax, que foi mais falado pelo diretor barulhento e as drogas do que pelo filme mesmo.
Ontem assistindo Monos no cinema, com o som no talo berrando a melhor trilha sonora do ano eu tive uma sensação de estar presenciando a grandeza. E de pensar como os elogios todos a esse filme colombiano são pertinentes e como os prêmios que ele vem deixando de ganhar por aí são desperdiçados.
Monos é uma experiência única, um filme que em princípio tem um roteiro tradicional, com uma história sem muita firula mas que por ter um diretor tão bom, o colombiano nascido em São Paulo Alejandro Landes, se torna uma obra de arte como poucas vistas no cinema nos últimos tempos.
Monos é o nome de um grupo de 8 jovens, adolescentes, guerrilheiros, que vivem no topo de uma montanha na amazônia colombiana e que tem em suas mãos a função de guardar e proteger uma americana sequestrada.
Lá no meio do nada, eles acabam criando um modo de vida próprio, como seria de se esperar de adolescentes com o poder nas mãos.
Eles cantam, dançam, se exercitam, brincam, gritam, comem, dormem, tudo isso com metralhadoras em punho e achando que estão sempre alertas, em coreografias que mais parecem saídas de aulas de ginástica em uma escola fuleira do que exercícios de guerrilheiros mesmo que mirins.
Mas a lama da montanha em meio a floresta da chuva vai os afogando em problemas que não existem mas que eles criam. E a mesma lama vai nos afogando espectadores incautos, hipnotizados pela trilha hipnotizante de Mica Levi e quando menos esperamos, somos Monos secos sentados em poltronas vermelhas participando daqueles rituais bestas e profundos, infantis e sexuais, pagando continência pro anão mais poderoso do cinema desde Twin Peaks em Cannes em 1992.
O filme tem um ritmo lento, quase arrastado, o que faz com que a gente não perceba o precipício pra onde estamos sendo levados e, cataploft, de onde caímos de cabeça.
Genialidade do diretor? Completamente.
Monos poderia ser um terror todo estilizado, com luz vermelha de armas de sinalização, com adolescentes lindos e sarados sem camisa se pegando enquanto se drogam de cipós mágicos na floresta. Mas não é nada disso. A fotografia do filme é uma das coisas mais lindas do ano (também), com uma escolha de quadro e de planos e de onde e como colocar a câmera como poucos fazem.
Não só a trilha de Monos é hipnótica, mas a edição também, seu ritmo e a forma como a história é contada. Quando a gente acha que vai ter uma reviravolta no roteiro, não tem. Quando a gente acha que uma personagem vai se revelar finalmente, não se revela.
Monos é o filme anti clímax (e poderia dizer que também é o filme anti Climax, o extremo oposto do francês).
As coisas no filme estão sempre prestes a acontecer. Sempre. A um passo.
E a partir de um momento, quando nós espectadores já estamos educados pelo filme, entendemos exatamente como e quando as coisas vão acontecer, o anti clímax nos mostra que no final das contas nem o roteiro interessa mais, não precisa de surpresa, de história, nós estamos lá no meio da floresta, molhados, cheios de mordidas de bichos, picadas de insetos, com a peixeira na mão tentando abrir uma picada depois de sermos tragados pelas correntezas dos rios que se encontram, o marrom e o preto e que quando se misturam e nos levam pro fundo, já é tarde demais porque Monos já havia nos tragado para dentro de seus encantos.
NOTA: