Nada mais prazeroso do que assistir um filme sem muita referência e do nada descobrir que é um verdadeiro #alertafilmão, um dos melhores filmes dos últimos tempos.
Não sei porque eu achei que Rumo A Uma Terra Desconhecida fosse um filme gay grego. Talvez por tê-lo encontrado em um fórum de filmes gays.
Mas o greco-palestino Rumo A Uma Terra Desconhecida é só por acaso filmado na Grécia e mais por acaso ainda tem uma única cena gay, fundamental pra história toda.
O que importa é que o filme do roteirista e diretor Mahdi Fleifel é um primor de contação de história, com um dos roteiros mais bem escritos de todos, sobre 2 primos refugiados palestinos, Chalita e Reda, que estão na Grécia tentando ir para a Alemanha onde acham que será o melhor futuro possível.
Melhor para Reda que é junkie, sempre é preso e deportado onde quer que esteja, por causa da heroína.
Mas desta vez seu primo Chalita está ao seu lado, cuidando para que nada saia errado, mesmo tendo que realizar furtos e esquemas nada ortodoxos para conseguirem se manter em Atenas e principalmente para terem dinheiro para comprar os passaportes falsificados que serão sua chave de entrada na Alemanha.
Reda, o junkie, é um cara bem gente boa, ingênuo até, que está sempre ao lado de Chalita, um cara mais esperto, mais nervoso, principalmente por ter deixado para trás sua esposa e seu filho pequeno para ajudar Reda chegar em seu destino final mas principalmente para fazer de tudo para que ele não volte para a casa de sua família, como sua tia, mãe de Reda deixa bem claro.
Nós não acompanhamos esses dias onde os primos precisam conseguir o dinheiro que lhes falta tendo que lidar com o traficante de pessoas cruel, com o vendedor de drogas de Reda, com o vício à porta do primo ingênuo, com a polícia atrás de refugiados e assim pra baixo.
Porque é sempre pra baixo.
O diretor Fleifel nos coloca tão dentro da história que as dores e as incertezas e medos da dupla acabaram me tensionando tanto que parecia que lá estava eu presenciando tudo das ruas quentes gregas.
O ponto alto de Rumo A Uma Terra Desconhecida é que em nenhum momento a gente sente pena de ninguém. Os personagens de Fleifel não estão lá para que a gente passe a mão em suas cabeças como que dizendo “não se preocupe, vai dar tudo certo”, até porque a gente sabe que nada vai dar certo, que a vida real é uma merda, principalmente para quem vive à margem da sociedade e no caso dos refugiados palestinos, a margem é bem distante do centro razoável, é a margem da margem, do refugiado de um país que hoje é tão odiado e demonizado que os respingos desse ódio são mais nocivos que a própria heroína super batizada usada por Reda.
NOTA: 1/2