Pra começo de conversa, eu não admito (ALOKA) que em pleno 2025 a gente tenha que assistir um filme com 3 horas e 35 minutos de duração e mais uma intermissão, um intervalo de 15 minutos para “esticar as pernas” e comprar pipoca no cinema.
O Brutalista é um belo de um filme mas nem de longe justifica os infinitos 215 minutos de duração da história de Laszlo Toth, o arquiteto judeu húngaro que fugiu da Europa para os Estados Unidos atrás de uma nova vida, novas oportunidades e aquele blá blá blá todo que a gente conhece muito bem.
Quando digo blá blá blá é porque apesar de ter adorado o filme, saí da sessão com bode do filme, do Toth, da mulher dele, da sobrinha chata, do patrão milionário, do filho do patrão milionário e de todas as desculpas quase esfarrapadas do roteiro para justificar o monte de loucurinhas da vida do imigrante atrás do sonho americano.
Eu nunca poderia imaginar que o diretor do quase bom Vox Lux fosse realizar um filme tão grandioso e pior/melhor, tão pretensioso. E que esse diretor, Brady Corbet soubesse tão bem dirigir e escrever roteiros, aqui com sua companheira Mona Fastvold, e criar pelo menos um das sequências mais lindas e memoráveis do ano, quando o arquiteto Toth e seu patrão Harrison Lee Van Buren visitam Carrara na Itália para escolherem o bloco de mármore que será usado para construir o altar da obra prima “brutalista” em torno da qual gira o filme.
Às vezes fico pensando uma sequência dessas, filmada em Carrara, possa até ter sido a primeira ideia do diretor em relação a história, de tão linda que é, tipo “meu sonho é filmar em Carrara onde um arquiteto procura o bloco de mármore perfeito para sua obra prima”. E a partir daí tudo é construído, o antes e o depois.
O antes começa com o arquiteto judeu chegando em Nova York e tendo a Estátua da Liberdade (torta, de cabeça pra baixo) como primeira impressão “impressionante” deste novo mundo rico, grandioso e acolhedor, já que ele recebe as boas vindas de seu primo que já mora em NY e casado com uma americana, deixam o imigrante morar num quartinho do fundo de sua loja de móveis, onde começa a trabalhar.
Lá aparece a oportunidade de reformarem a biblioteca de uma casa gigante, “de rico”, e Toth mostra a que veio e quem é, um pequeno gênio da arquitetura que só precisa do mecenas (ou do patrão) certo para colocar pra fora os seus sonhos brutalistas.
Mas isso tudo não interessa, ou pelo menos o diretor Corbet tenta nos mostrar, porque o que realmente interessa em O Brutalista é a vida desse homem, os fantasmas que ele carrega, seus traumas, seus desesperos, suas virtudes e também os seus vícios.
E olha que o cara tem vícios.
Laszlo Toth talvez seja o melhor personagem do ano, criado a partir de um roteiro original quase perfeito por um Adrien Brody não só super inspirado mas também muito bem dirigido. E olha que estamos falando de um ano com Ralph Fiennes dando vida ao maior cardeal da história do cinema recente em Conclave.
Brody deve levar o Oscar, apesar de eu até preferir Fiennes, mas o seu arquiteto judeu que fugiu do nazismo e cai nas garras de um milionário americano que lhe promete os céus e mais um pouco e ao invés de lhe tirar de seu inferno particular, lhe entrega até o palco para que ele viva seus dias de sofredor nas chamas das ideias do inferno da arquitetura sob a égide da cruz católica, é seu maior papel, maior ainda que o pianista judeu que já lhe deu o Oscar, o que eu achei que seria impossível de acontecer.
Quando o Laszlo de Brody acha que seus problemas se resolveriam ao reencontrar depois de muitos anos com sua esposa que finalmente vai para os EUA, ele descobre que ao chegar de cadeira de rodas e com uma vontade de viver que não cabe em seu corpo doente, ela trás junto as piores lembranças e não a esperança de felicidade que ele achava que com ela reencontraria.
O Brutalista é um filme que me surpreendeu tecnicamente falando, com uma direção totalmente acima da média hollywoodiana, numa produção nababesca e muito, mas muito bem cuidada e gerida pela queridinha A24.
O que me deixa chocado, até agora, é que um filme de 3h35 de duração esteja onde está, com o sucesso que tem feito, com as láureas alcançadas e com a possibilidade de sair do Oscar premiado.
O que acontecerá com certeza já que O Brutalista virou uma das certezas num ano confuso, o que está sendo ótimo para Ainda Estou Aqui. E se não fosse a culpa hollywoodiana de ter que premiar Emilia Pérez de alguma forma, eu diria que Felicity Jones, como a esposa de Laszlo, deveria ganhar tudo que aparecesse na frente dela porque este filme a leva a um novo patamar de Atriz com A maiúsculo.
O Brutalista só não leva as minhas 5 claquetes porque seu ótimo roteiro é cheio de invencionices bem estranhas para resolver “problemas” de seu personagem principal, porque se tudo fosse contado “como se deve”, O Brutalista teria umas 6 horas de duração e vendo o que eu vi, o diretor o lançaria ainda como filme e não daria o braço a torcer o tornando uma mini série luxuosíssima.
NOTA: 1/2