The Last Showgirl é o filme perfeito pra mim.
Indie raiz, com roteiro perfeito, poucas e boas locações que resolvem muito bom os “problemas” do filme, elenco ótimo e muito, mas muito bem dirigido por uma diretora que sabe o que quer e que inclusive é bem ousada como por exemplo com a fotografia, que me remeteu aos bons tempos do Cassavetes nos 70’s ou aos melhores ainda anos do renascimento do indie americano no início dos 90’s.
The Last Showgirl é um filme pequenininho que explode e se torna gigante por um ponto genial a partir de um olhar surpreendente: a diretora Gia Coppola teve a manha e a coragem, como já disseram muitos, de colocar Pamela Anderson como a dançarina de um show decadente de Las Vegas.
Sim, aquela Anderson da sex tape com o marido Tommy Lee, do mega sucesso Baywatch e mais recentemente do sucesso na Broadway em Chicago. E que por causa de tudo isso, se disse cansada, se mudou para seu Canadá natal e parou de usar maquiagem e de se vestir como todo mundo esperava que ela fosse se vestir pelo resto de sua vida, como uma bomb shell.
Pamela é Shelly no filme, uma mulher de seus 50 e alguns anos que dança semi nua todas as noites em um show burlesco com influência francesa, mas totalmente datado e tão decadente que é cancelado.
Ela é considerada uma mãezona por algumas dançarinas jovens, que nela procuram um ombro e conselhos enquanto a própria Shelly os procura em sua amida das antigas Annette, que já foi dispensada do espetáculo 6 anos antes por causa da idade e ainda não se conforma com isso.
Essa ciranda fica óbvia quando a gente vai percebendo que uma é o reflexo futuro da outra em um mundo onde as plumas, os paetês e o tamanho do teatro e a distância do palco dos espectadores, faz toda a diferença para que mulheres mais velhas não precisem mentir tanto sua idade, ou melhor, possam medir suas idades por isso mesmo.
Um dos pontos altos do roteiro para mim é o poder de Shelly separar sua vida profissional da vida pessoal, que ela foca em tentar ter um relacionamento com a filha adulta, prestes a se formar na faculdade e que não consegue perdoar a mãe por ter escolhido ser uma dançarina burlesca ao invés de ser uma mãe “provedora”.
Preciso falar mais de Pamela Anderson porque como atriz principal de um filme destes, ela é jogada aos leões o tempo todo. E sai ilesa e vencedora a cada cena, a cada sequência, depois de cada sorriso amarelo, depois de cada frustração, que são muitas, depois de cada não, outros tantos, que aparecem de todos os lados.
Shelly, com sua voz atípica e seu modo quase fofo de falar, é uma presa fácil para o ex namorado abusivo, para o crush que dá um cano nela, para o diretor do show novo e principalmente para sua filha perdida que ao mesmo tempo que quer se aproximar da mãe, é tão traumatizada que só consegue chamá-la pelo nome e que sempre que se aproxima fisicamente, acaba saindo correndo para se distanciar o mais rápido que pode, para não cair em tentação.
Ah, que roteiro.
Ah, que escolhas feitas não só com as personagens mas principalmente com as formas cinematográficas que transformaram um orçamento ínfimo em um filme que parece grandioso, com espetáculos e bailarinas e sons e luzes.
Ah, outro detalhe da grandiosidade indie de The Last Showgirl é sua duração de menos de 1h30, o que é o óbvio e ululante, indo contra a maré dos filmes mais longos que 2h30 tão na moda e tão presentes como favoritos ao Oscar 2025, por exemplo.
A diretora Gia Coppola (neta de Francis, prima da Sofia) já vinha se mostrando muito talentosa em seus filmes anteriores mas neste The Last Showgirl desabrochou de vez e se tornou uma das maiores promessas do cinema vindo dos EUA. Só espero que ela não seja cooptada pelo moedor de carne hollywoodiano e que consiga nos entregar mais e mais filmes pelo menos tão bons quanto esta obra prima.
NOTA: