The Old Woman With The Knife poderia ser só mais um ótimo filme de ação, de vingança, como vários outros filmes orientais que já criaram uma das maiores tradições do cinema.
Mas o sul coreano Min Kyu-Dong não é um diretor qualquer, o cara entende e muito da condição humana e fez questão de mostrar aqui.
The Old Woman With The Knife é um estudo sobre o humano, sobre ser humano, com todas as falhas, as fraquezas inerentes a todos e cada um de nós, disfarçado em um filme de ação super violento sobre assassinos de aluguel, traições, esperas e sobre amor em suas mais variadas formas, até aquela que ninguém entenda.
Min Kyu-Dong faz uma afirmação importante no filme e tenta nos explicar, ou melhor, e tenta explicar a seus personagens que “quem anda com insetos (e eu traduziria para bichos escrotos), acaba se tornado um deles”.
E nos vemos no filme que a gente pode trocar os “insetos” da afirmação por bichos fofos, anjos ou demeionios, isto é, serve para todo “tipo” de gente que nos rodeia e que nos atrai.
A mulher velha do título é conhecida como “a madrinha” ou “Hornclaw”, a “garra/chifre”, a mais temida das assassinas de aluguel, dona de uma firma onde se contratam assassinos mas com a filosofia de que eles só exterminam insetos que eles acreditam que devem ser exterminados.
Mas o filme é sobre a temida madrinha, uma mulher que desde pequena foi rejeitada, tripudiada, detonada por sua família, depois por quem fingisse a ajudar, desprezada até que um dia um homem a encontra no meio da rua, perto de morrer congelada em uma tempestade de neve e a acolhe sob seu teto, onde já viviam sua esposa e seu filho pequeno.
Este homem é o que primeiro exterminava os insetos e vai ensinando Hornclaw primeiro a perceber o perigo chegando e depois a se defender desse perigo que sempre, como ela mesma já sabe, é seu pior inimigo. E não os insetos, que são insignificantes a ponto de não saberem o que os aguarda.
Um dos pontos altos do filme é como o diretor Min Kyu-Dong vai e volta no roteiro, onde não sabemos se o presente do filme ee o passado ou o futuro de Hornclaw, o que deixa tudo em um estado quase metafísico.
Quando eu poderia imaginar que assistiria um filme de ação violentíssimo, de vingança, de pessoas destruídas que só sabem destruir e que esse filme seria como uma experiência de outro mundo, onde todo o sangue visto na tela, e olha que tem sangue, inclusive aqueles “arzinhos” de sangue quando alguém recebe um tiro que eu acho tão lindos, quando imaginaria que isso fosse nos levar a imagens como a de uma pietea banhada de vermelho, de dor e de sofrimento.
Min Kyu-Dong cria um novo código de ética, um novo código de sobrevivência, onde as pessoas passam suas vidas se preparando para encontrar o momento certo para se vingarem, onde não existe o que vemos no dia a dia do cara que brigou no bar, foi até sua casa, volta armado e atira no ara que primeiro lhe desferiu um soco.
Em The Old Woman With The Knife a vida muitas vezes só serve para que a pessoa se prepare para o dia do juízo final, onde essa pessoa é a vítima, o juiz e o próprio carrasco e de novo, tudo isso sem que a pessoa julgada não faça a menor ideia do que ela esteja prestes a “sofrer”, a passar.
O diretor vai nos alimentando com migalhas sem que percebamos que estamos sendo nutridos, jea que as migalhas são mínimas e passam despercebidas pelo nosso sistema digestivo fílmico. Tudo é muito lento, quase litúrgico, sem pressas, sem desesperos e lembre-se que estamos falando de um filme de assassinos de aluguel, que tem um dos finais mais lindos no pior dos sentidos, com a resolução (?) apoteótica da história da madrinha, da velha mulher com a faca, que ceifa vidas de “insetos” enquanto preserva vidas de cachorrinhos encontrados na rua e tudo o que o cerca, como sempre aqui, para o bem e para o mal.
NOTA: