O norueguês The Ugly Stepsister, A Meio-Irmã Feia, é um dos grandes filmes dos últimos anos.
É um conto de fadas que se passa na época “real” da história, em um castelo lindo, com a direção de arte mais incrível possível, com uma fotografia linda, roteiro todo muito bem escrito e para a nossa sorte, uma diretora estreante, a já ótima Emilie Blichfeldt, que se fez esse filme na estreia, só imagino o que vem por aí.
Emilie se mostra uma filha direta do Cronenberg, irmã de sétima arte da francesa Julia Ducournau, cruel, fria, irônica, violenta e o mais importante de tudo, uma Diretora de Cinema com letras maiúsculas.
The Ugly Stepsister estreou em Sundance, depois passou em Berlim e foi comprado pela Shudder para a estreia nos EUA e assim chega em nossas mãos.
Claro que você sabia que os contos de fadas fofos com finais felizes são sempre baseados em lendas ou em histórias “reais”sempre trágicas, desesperadoras mas com alguma lição de moral que tiveram versões muito sanitizadas e “afofuradas” por escritores como os irmãos Grimm.
A diretora Emilie foi maravilhosa o suficiente que usou como base de seu The Ugly Stepsister a história “real”, bem antiga e pouco conhecida, antes dela ser adaptada para crianças pelos irmãos Grimm, com todo o horror e crueldade da Cinderela original.
Este filme foca não na linda e fofa e transformada em empregadinha do palácio Agnes, a filha do nobre que morre e deixa tudo para sua nova esposa, mãe da meia irmã feia, invejosa e claro, cruel.
Ah, e bem doida também.
O universo que a roteirista e diretora Emilie Blichfeldt criou para contar a sua história é das coisas mais lindas do ano por 2 motivos.
Primeiro porque o filme se afasta o máximo possível de todo universo fofo e lúdico e disneyano que vive no nosso sub consciente por causa da princesa da Disney.
Segundo porque quando quer, a diretora Emilie Blichfeldt joga na nossa cara as referências originais e quase sempre horrorosas e nojentas, que foram “limpas” no conto dos Grimm e no filme da princesa de vestido azul, da abóbora de carruagem e dos ratinhos ajudantes.
Tem tudo isso em The Ugly Stepsister?
Sem dar spoiler, claro que tem, porque não poderia existir essa história sem o mínimo de ligação com nosso conhecimento sobre a história de amor da princesinha. Mas aqui é “vida real”, é época onde as pessoas mal comiam e mal tomavam banho, é época onde as formas de emagrecer não eram muito saudáveis, digamos assim, época onde a medicina ainda começava a engatinhar mas bem no comecinho mesmo, apesar das ideias dos médicos da época.
Médico, inclusive, que séculos atrás usa um uniforme para operar muito parecido com roupas que já vimos no filme Gêmeos – Mórbida Semelhança do mestre canadense, neste body horror que embrulha o estômago ao explicar como foi na “real” o que a gente viu no filminho.
As referências não param por aí e são só referências mesmo, homenagens a filmes e diretores e obras de arte que influenciaram de alguma forma a diretora Emilie Blichfeldt, tudo no universo que ela criou e onde este filme, de novo, que se passa séculos atrás não sofra de modernismos bestas.
Nem a trilha com os 2 pés no modernoso parece fora de lugar, sendo muito pertinente para a evolução (ou degradação) psicológica da meio-irmã feia, a Elvira.
Se ela parece uma menininha ingênua, apaixonada pelo sonho do príncipe no início do filme, com o tempo que passa vamos vendo o quanto as influências da mãe, a inveja da meio irmã linda, o bullying que sofre por ser “gorda” e “feia”, vão transformando Elvira numa das grandes vilãs do ano, e o melhor, vilã de si mesma, o que acaba sendo até inédito.
Mais uma surpresa, mais nesse que jea entrou na minha lista de top 10 de 2025 sem a menor dúvida.
Se eu gosto de ser surpreendido, de que tirem o chão debaixo de meus pés, Emilie Blichfeldt e seu The Ugly Stepsister tiram nota 10, , #alertafilmão e meu mais profundo amor.
NOTA: